Quero ser Musicista Entrevista: Ísis Biazioli

Quero ser Musicista Entrevista: Ísis Biazioli

O projeto de entrevistas Quero ser Musicista segue sua toada de ampla aprendizagem. Hoje a entrevistada é a doutoranda em musicologia Ísis Biazioli. Uma figura de paz, harmonia, de palavras dosadas e certeiras! Uma educadora especial que eu muito admiro em suas diferentes matizes.

Sua entrevista é uma possibilidade de visualização profissional incrível. Um percurso repleto de êxitos acadêmicos e pedagógicos. A entrevista faz pensar, faz sonhar! E o que seria de nós sem o sonho? Aprecie!

Chegamos em nossa oitava entrevistada! Serão vinte! Vamos em frente!

ENTREVISTA #8

Nome: Ísis Biazioli de Oliveira

Cidade Natal: São Paulo

Ano de Nascimento: 1987

Instrumento: Piano

Formação Acadêmica: Entrei na USP no curso de bacharelado em piano em 2007, mas a partir de 2008 mudei para licenciatura em música, habilitação na qual me formei em 2011. Em 2012 ingressei no mestrado em Processos de Criação Musical, também na USP. Sob orientação do Professor Doutor Paulo de Tarso Salles entreguei a dissertação “Processos Composicionais no Kyrie do Réquiem de Ligeti” em 2014. No ano seguinte, ingressei em Musicologia na USP, onde estou prestes a entregar a minha tese sobre a Sinfonia Fausto do Liszt sob orientação do Professor Doutor Mario Videira.

Formação Livre: Iniciei minha formação na ULM, atual EMESP, com a professora Donata Lange, em piano erudito. Lá, tive minha formação prática e teórica básica. Além disso, fui ao Festival de Poços de Caldas e mantenho uma formação continuada em mini-cursos ou palestras que são dadas geralmente nas universidades ou em congressos acadêmicos sobre música.

1) Como foi seu envolvimento inicial com a música? Quando decidiu intensificar a atuação e de fato profissionalizar-se?

Comecei cedo aos 7 ou 8 anos de idade e nem sabia muito bem o que queria. Meus pais falaram para eu fazer um teste para ingressar na ULM (atual EMESP) e depois disseram que eu tinha passado. O primeiro ano foi só de musicalização. Dali há pouco perguntaram qual instrumento eu queria tocar. Nem sabia o que responder. Sem saber quais eram todas as possibilidades, pensei em piano e violão, mas violão só tinha vaga para maiores de 12 anos, eu acho. Acabei indo pro piano. Confesso que, de início, eu não gostava muito. Fui ficando mais interessada na medida que os anos se passaram e me senti capaz para tocar músicas mais complexas, mais interessantes, do meu ponto de vista.

Lembro que quando tinha uns 12-13 anos, já gostava bastante de piano e música (sempre gostei das matérias teóricas, também, o que aliás veio a ser o foco da minha atuação acadêmica), mas achava que a atividade musical era apenas hobby. Quando estava no ensino médio, minha irmã entrou na UNESP, bacharelado em Artes Plásticas. Foi só aí que uma chave virou na minha cabeça. Uau, então Artes também pode ser profissão, pode ser estudado na faculdade? Uma loucura, né? Embora eu tivesse aulas com vários professores, profissionais da música, só fui pensar a sério sobre isso quando vi a coragem da minha irmã em seguir em uma carreira não tradicional e lutar por isso, contra a vontade dos meus pais.

2) Quais as principais barreiras encontradas para o desenvolvimento de sua carreira? 

Acho que a principal barreira é o estigma social. Aquilo que eu disse antes, quanto tempo demorou até eu me ligar que música é e pode ser uma profissão? Você diz que vai prestar música e já começam, mas e tal profissão, e tal outra e tal outra? É claro que essa fase da escolha de uma profissão é sempre confusa e que a gente tem que pensar em várias opções antes de se decidir. Mas por que será que, mesmo depois de decididos, a gente não recebe tanto apoio? Meu pai tinha o sonho que um dos filhos fosse engenheiro. Nunca ouvi ninguém falando que o pai sonhou em ter um filho músico.

Outra barreira que eu encontrei foi achar um lugar na minha cabeça para a minha atividade. Fui a primeira pessoa a fazer música na minha família nuclear (ao mesmo tempo, tive outros dois primos por parte de pai). Por mais que eu vivenciasse a rotina de estudos diários desde pequena, acho que eu sempre me boicotei um pouco. O primeiro caso, mais grave, foi quando tive depressão no primeiro ano da faculdade. Lembro de achar que aquele lugar não era pra mim, que eu nem era tão boa assim, tinha medo de estudar e não dar em nada. É claro que isso tudo teve um pouco a ver com os meus próprios problemas psíquicos, mas também uma autoimposição de achar que eu só teria lugar na música se eu fosse, disparado, A melhor entre todos os outros. Como se a música fosse feita só por e para UM Nelson Freire enquanto todos os outros passam fome.

Demorei a perceber que o campo da música são muitas coisas diferentes: é dar aula, é ser camerista, é pesquisar, é entender de teoria, de análise musical (para citar só as portas que eu decidi abrir ao longo do meu caminho). Claro que a competência é super importante, mas quando o medo de não chegar no lugar mais alto do pódio é tão grande que você nem consegue dar os primeiros passos, aí você tem um problema.

Acho que isso também tem um pouco a ver com o mito do artista. A gente que começa muito cedo nas artes, logo está num palco, logo é aplaudido, mas não sabe interpretar isso de modo maduro. É difícil quando se é adulto e mais ainda quando se tem 8-10 anos de idade, entender que os aplausos não se referem a pessoa do artista (e nossa mídia personalista, não ajuda muito, também, né?!).

As pessoas gostam de um trabalho, do resultado de um processo de estudo e dedicação, não do indivíduo. Se a gente não sabe fazer essa separação e acredita, de alguma forma, em talento, uma hora ou outra a gente acaba ficando com medo de perder o amor de quem está mais próximo se a gente errar ou não for tão bem. O problema é que não existe estudo, não existe progresso e, no final, não existe êxito, sem erros, sem tropeços, sem dificuldades. Estudar música é aprender a ouvir os próprios erros todos os dias, especialmente no estudo de um instrumento, e tentar levar isso de modo leve, orgânico e natural. O que importa é se manter tentando, buscando o melhor.

3) Como é gerir uma carreira que possui a docência e o viés acadêmico ciente de que está concluindo o doutoramento?

Olha, eu venho de uma família que sempre valorizou muito os estudos. Meu pai lutou muito pra concluir uma faculdade e deixou de legado para todos os seus filhos (somos em quatro) o valor do estudo e, especificamente, da academia. Todos meus irmãos foram para a pós-graduação. Acho que, para mim, esse foi um sonho natural. Não bastava me formar. Já na graduação fiz Iniciação Científica e parecia óbvio que eu faria Mestrado. Para começar o doutorado, confesso que fiquei na dúvida, porque já estava um pouco cansada. E muita gente me incentivou a seguir (professores/as, marido, amigos/as), para que aproveitasse o fôlego e a juventude, porque depois seria mais difícil. Não sei. De alguma maneira, tinha o sonho de ser professora universitária e o doutorado é pré-requisito para se prestar um concurso de docente superior em uma universidade pública e é exigido em muitas universidades particulares também. É claro que para seguir na área acadêmica precisa também gostar da pesquisa e do trabalho de investigação em música, mas estaria mentindo se negasse que a docência em nível superior não me encanta. É muito triste ver o que estão fazendo com a universidade, com a pesquisa e a ciência no país. De qualquer maneira, comecei a minha carreira acadêmica no período de maior efervescência da atividade universitária do país. Eram muitas faculdades de música abrindo, programas de pós-graduação em música sendo ampliados ou abrindo, colegas mais velhos sendo contratados como professores nas universidades federais. Agora, não sei como será. De qualquer maneira, acabando o doutorado, vou fazer questão de me dedicar um pouco mais ao piano e a atividade camerista: sugerir recitais, tentar gravar vídeos e fazer crescer um pouco o lado artístico que ficou difícil de seguir a partir do momento que decidi fazer mestrado e doutorado em áreas teóricas. E, claro, surgindo a oportunidade de dar aula no ensino superior, seja a partir de concursos para as universidades públicas, seja sendo admitida em alguma universidade privada, seria ótimo. Se não der, também sou muito feliz em ser professora de iniciação e formação musical básica. Por fim, gosto de dar aulas em geral!

4) Como gere a prática instrumental, manutenção e desenvolvimento técnico, e os projetos de pesquisa e atividades típicas do mundo acadêmico?

Confesso que as exigências acadêmicas (quantidade de leituras, o trabalho da escrita, especialmente para quem não escolhe uma pós em performance) e de manutenção da vida (quantidade de aulas para saúde financeira da família) dificultam a prática do instrumento. De qualquer maneira, acho que algumas coisas ajudam. Hoje tenho uma maturidade que não tinha nos tempos de estudante. Embora as atividades docente e acadêmica limitem um pouco o tempo disponível para o estudo, elas também nos ajudam a estudar com mais consciência. Consciência corporal, consciência do material musical e suas exigências, consciência dos processos de aprendizagem. Lembro que quando entrei em bacharelado em piano na USP, uma das primeiras dicas da Professora Luciana Sayuri foi para que eu começasse a dar aulas. A gente aprende muito, enquanto ensina. Tenho a nítida sensação de que uma hora de estudo ao piano hoje é infinitamente mais produtiva do que já foi. É claro que existe um limite. Se você der 60 horas de aulas na semana, não tem como manter o instrumento. Não dá pra confiar apenas na maturidade e deixar de lado a prática, os exercícios, a rotina. Mas aí é valorizar os momentos mais disponíveis e ter paciência com os momentos mais difíceis (todo professor sabe que fim de semestre ou véspera de apresentação de alunos é uma loucura; pra quem está na pós-graduação são os prazos dos relatórios, da qualificação, da entrega e dos eventos acadêmicos). Acho que precisa tentar equilibrar as atividades e ter consciência que, depois de um período sem estudar, a gente não vai sair tocando um Estudo Transcendental no primeiro dia e estudar 6 horas direto, da primeira vez que sentar para tocar. Tem que alongar, fazer escalas, exercícios básicos, tocar passagens difíceis em andamento lento e ir aumentando o tempo de estudos aos poucos, com paciência, responsabilidade e segurança para saúde corporal. Afinal, tocar um instrumento é também uma atividade corporal.

5) No mestrado você desenvolveu um estudo sobre processos composicionais. Você também compõe? Se sim, como as práticas da análise contribuem com a formação do compositor? E quais metodologias foram adotas no desenvolvimento da dissertação?

Eu não componho. É muito comum associar a atividade de analista musical com a de compositor e muitos são os analistas que também são compositores. Mas isso não é uma exigência completa. A Prof. Adriana Lopes da Cunha Moreira (USP), por exemplo, também faz análise musical e não é compositora. É claro que fiz aulas de harmonia, de contraponto e etc, mas o meu interesse é tentar entender o raciocínio e os padrões por trás do que já foi escrito e não produzir algo novo.

Para um compositor, mesmo que não tenha o interesse em seguir academicamente na área da análise musical, a análise é uma técnica imprescindível. Acredito que, pelo menos depois da época moderna e especialmente a partir do fim do séc. XVIII até hoje, música é um diálogo transtemporal entre obras de diversos períodos históricos distintos. Não é possível criar algo novo sem saber o que já foi feito e como foi feito e isso a gente aprende com a análise musical. Algum chef de cozinha já criou um prato sem saber fazer os clássicos da culinária? György Ligeti, o compositor que pesquisei no mestrado foi chamado a dar aulas de composição nos Cursos de Verão de Darmstadt (os principais cursos da vanguarda musical da metade do século XX) e lá ele dava aula de contraponto tradicional. Anton Webern, compositor que pesquisei na Iniciação Científica, estudou a obra de Heinrich Isaac. Liszt, o compositor que estou estudando agora, tem sempre Beethoven nos ombros: arranjou todas as sinfonias de Beethoven para piano, foi um dos primeiros a tocar as últimas sonatas do compositor alemão e sempre fez questão de reger suas obras. Isso, inevitavelmente tem impacto na sua prática composicional. São muitos os exemplos de diálogos entre os compositores. Há até um doutorado na USP, do Max Packer, que estuda casos de obras que nasceram do comentário de outras obras. É possível ler a tese no link a seguir: (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-11032019-113922/pt-br.php).

Sobre o meu mestrado, bom, eu analiso um dos movimentos do Réquiem (missa fúnebre) de György Ligeti: o Kyrie, uma peça no início da década de 1960, período em que o compositor estava explorando as saturações cromáticas. Começo observando a microestrutura da obra, com análise da organização intervalar nota-a-nota. Discuto aí a cadeia de terças implícita à escrita do primeiro sujeito Kyrie Eleison (porque a peça é uma fuga) e as simetrias do sujeito Christie Eleison, um sujeito escrito em falso contraponto num todo expansível. No segundo capítulo observo a superfície audível da peça: discuto o porquê da escrita nota-a-nota não ser sempre audível e o papel das ilusões sonoras na construção de uma peça que flerta com a tradição da música eletroacústica, embora seja escrita para grande orquestra. No último capítulo, explico a estrutura da peça, ou seja, como é construída a fuga e sua relação com a tradição de fugas. Como podemos ver desde as fugas de Bach, ou até antes, a estrutura da peça já é anunciada no início da obra com o Sujeito Christie Eleison. Por fim, ao longo do trabalho estou o tempo inteiro comentando a relação da obra com várias tradições musicais: a importância da cadeia de terças em peças tonais do final do séc. XVIII e séc. XIX (uso inclusive um suporte típico para a análise de música tonal, o Tonnetz, dos neo-riemannianos), os falsos contrapontos típicos da escrita bachiana para instrumento solo, a busca sonora advinda das produções eletroacústicas, a longa tradição de escritas de fuga. Essa relação entre tradição e inovação/ruptura, tão cara à era moderna, é muito marcante em Ligeti e acho que exemplifica muito bem o papel da análise musical no ato composicional.

6) Como verifica a carreira do musicista hoje em comparação ao momento em que profissionalizou, tanto sobre mercado quanto sobre a formação, hoje com graduação, e faculdade como percurso praticamente realizado por todos, é mesmo fundamental graduar-se para ingressar na carreira de musicista?

Não sei se saberei responder ao certo. Uma vez o Arnaldo Cohen falou para o meu marido que nos últimos tempos, diferente de quando ele estava em formação, existem profissionais muito bem qualificados no Brasil e que não é estritamente necessário fazer a formação fora do país. Eu acredito na academia e pessoalmente a faculdade me ajudou muito. Não posso dizer que é assim para todos. Sei de gente que tinha uma ótima formação anterior e que a busca do diploma foi uma busca burocrática, especialmente para a geração que tem mais de 40/50 anos hoje. Para mim, a graduação abriu os meus olhos para o imenso leque de possibilidades profissionais que existem na música. E posso dizer com certeza, 90% de tudo o que sei a respeito de análise musical, teoria musical, história da teoria, estética e sobre o repertório, especialmente do século XX, eu conheço graças aos professores da USP e aos trabalhos, autores e eventos acadêmicos que tive contado a partir do momento que entrei na graduação. Isso sem contar na riquíssima oportunidade de conhecer aqueles que serão os seus colegas e amigos de profissão. Os primeiros alunos que tive e muitos dos novos alunos que continuam me procurando são indicação de amigos do tempo da graduação ou de professores da USP. É claro que quanto mais tempo de trabalho, mais essa rede de contatos vai aumentando, mas, no meu caso, a faculdade foi e ainda é muito importante também nesse sentido. Mas como disse, isso é a minha experiência. De qualquer maneira, sempre existe o que ser aprendido e se estamos abertos aos ensinamentos dos outros, podemos nos enriquecer em qualquer lugar. Já aprendi muito com meus alunos também.

7) Os mesmos problemas que temos na sociedade brasileira se refletem no mercado musical? As oportunidades e consolidação da carreira das musicistas é o mesmo para os musicistas? Como foi essa consolidação para você? 

Essa é uma pergunta difícil. Se você quiser alguma história de preconceito explícito, eu não terei pra te dar, mas as vezes fico me perguntando se as minhas próprias escolhas e meus medos não são um reflexo do machismo estrutural na nossa sociedade. Lá em cima, por exemplo, você me perguntou se eu compunha. Não, não sou compositora. Por que será que não sou compositora? Quantas são as compositoras que a gente conhece? Nos programas de formação de piano, nos repertórios de confronto dos concursos de piano e provas, quantas são as obras de mulheres? Quantas músicas de compositoras exemplificam questões harmônicas, melódicas, enfim, musicais nos livros de teoria e análise? Quais os livros que a gente usa que são escritos por mulheres? E esses são apenas alguns exemplos da minha área de atuação específica. Toda essa sensação de que, anteriormente eu falei, de uma falta de sensação de pertencimento, não são os impactos dos silenciamentos das mulheres na nossa sociedade? Por que passar no vestibular não foi suficiente para eu acreditar que poderia fazer música na USP? O que tenho visto, é o impacto dessas exclusões sociais nos dilemas psíquicos das mulheres. Já ouviu falar em Síndrome do Impostor? São pessoas que, por mais competentes que sejam, por mais provas que tenham dessa competência, são incapazes de acreditar que são capacitadas. Não acho que seja coincidência que eu tenho visto exemplos claros dessa síndrome em quase todas, senão todas as mulheres que conheço na academia. Nunca vi um professor pedir desculpas por não ter preparado uma aula, mas já vi uma professora de pós, que deu uma excelente aula, fazer isso! Da mesma forma que vi professoras, vi também colegas e alunas com uma insegurança desmedida. E talvez o que fique assim, no subterrâneo, seja ainda mais perigoso. A gente acaba acreditando que somos medrosas, menos corajosas, menos produtivas e esquece quantas são as barreiras invisíveis que estamos transpondo todos os dias.

Perfeita análise Ísis.

8) Mas então como evoluir em oportunidades para que a procura por uma sociedade mais justa se reflita antes em nossa área de atuação profissional?

Eu, pessoalmente, tenho tentado dar visibilidade às mulheres. Mas isso precisa ser buscado, ser pesquisado. Simplesmente porque o trabalho delas é excelente, mas a gente fica sem saber. Fiz toda a minha formação de piano sem nunca tocar nem ao menos uma obra de uma mulher. E isso não é exceção. Por isso, sempre que posso, tento pesquisar repertório de mulheres para os/as meus/minhas alunos/as tocarem: o Álbum da Juventude da Cecile Chaminade, por exemplo, é incrível! Tenho uma aluna que se apaixonou pela Lua Branca da Chiquinha Gonzaga! E foi uma vitória pra ela, que sempre teve resistência em ler partitura, gostou tanto da peça que fez praticamente sozinha. Tive que dizer apenas duas ou três dicas para a peça ficar redonda! Tenho um duo com a pianista Denise Perez e fazemos questão de ter compositoras nos nossos programas: além da Chaminade, a Melanie Bonis, a Fanny Mendelssohn, a Clara Schumann….. Na Iniciação Científica, um dos principais trabalhos que usei foi de uma mulher: a Kathryn Bailey. No mestrado, a Prof. Yara Caznok e Jane P. Clendinning foram muito importantes. Agora, no doutorado, o trabalho da Janet Schmalfeldt está sendo decisivo para eu encontrar o caminho para responder a minha questão central. E é isso, na verdade, os trabalhos e as composições são espantosamente bons! Depois que você os conhece, não tem como não usá-los. Isso não significa que eu recuso agora os trabalhos e composições de homens. Não é nada disso, mas fico atenta para ver se também as mulheres estão sendo ouvidas e estudadas.

9) Quais projetos ocorrerão a seguir da defesa de sua tese de doutorado?

Nossa, nem tive muito tempo para pensar sobre isso…. Estou no olho do furacão, correndo para que o prazo não me pegue despreparada. De modo genérico, quero ter mais tempo para tocar, isso com certeza. Talvez eu tente mandar um trabalho para um congresso internacional que terá na Itália, mas inda não sei se conseguirei. E acho que vou tentar escrever um artigo com os principais resultados da tese para tentar alguma publicação em revista internacional. Também vou querer pesquisar repertórios diferentes para os meus alunos, dar uma incrementada nas minhas aulas e correr atrás de oportunidades na docência de ensino superior. Mas como eu disse, é tudo vago ainda. Agora, tenho que saber como terminar os capítulos, como amarrar as discussões que estou levantando e como comprovar de modo contundente e sistemático que a minha hipótese inicial estava certa! E estava!

Caríssima Ísis, agradeço muitíssimo a entrevista. 

A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada é um legado que com certeza teremos em comum.

Um abraço.

Professor João Marcondes.

Entrevista realizada em 24 de junho de 2019 por e-mail.

#VemProSouza