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Quero ser músico entrevista: Rodrigo Morte

Quero ser músico entrevista: Rodrigo Morte

Mais uma entrevista realizada para nossa série Quero ser músico, agora com o arranjador, compositor, e produtor musical Rodrigo Morte.

Uma figura de gentileza ímpar, sensibilidade artística e cumplicidade docente. Um educador diferente, que faz pensar, que interage com estudantes de maneira marcante. E que desenvolve um trabalho que contempla a diversidade da atuação do músico, tudo que temos procurado em nosso trabalho de orientação de carreira que venho tentando promover aqui no BLOG.

Uma grande entrevista! Vale a pena conferir! Vamos lá?

ENTREVISTA

Nome: Rodrigo Morte

Cidade Natal: São Paulo

Ano de Nascimento: 1976

Instrumento: Piano

Formação Acadêmica: Mestrado em composição e arranjo pela Universidade de Miami e Bacharel em música popular pela Unicamp. Doutorado em composição em andamento.

Formação Livre: Formação em constelações sistêmicas.

 

1) Em que ano iniciou sua carreira como músico profissional?

 

R: Em 1994 comecei a tocar com grupos diversos, na noite e em eventos. Em 1997, comecei a trabalhar em estúdio (para publicidade) e no ano seguinte recebi a primeira encomenda remunerada de um arranjo orquestral. Desde então, minha carreira como músico é centrada na elaboração de arranjos, composições, produção musical e gestão cultural.

2) Quais áreas já atuou diretamente como músico?

R: Já fiz um pouco de tudo. Como disse, atuei como instrumentista no início da carreira. Também trabalhava em produtora de áudio para publicidade, onde criava e produzia Jingles, trilhas para comerciais de TV e rádio. Fiz trilha de cinema, teatro e balé. Escrevi inúmeros arranjos de todo tipo para gravações e concertos. Colaborei na elaboração de material didático, quando fui coordenador editorial da editora Souza Lima. Fui diretor da Sinfônica de Campinas por 5 anos. Leciono em diversos cursos de graduação e pós-graduação.

3) Regressando ao início de sua carreira, ou ainda antes, como foi a estada no Conservatório Souza Lima como aluno? E qual a emoção de regressar a instituição no corpo docente da Faculdade uma década depois?

R: Foi muito boa. Lembro com muito carinho do período em que estudei aqui. Era comum eu chegar com muita antecedência ao horário das aulas pra ficar na escola, em contato com outros músicos, alunos e professores. E confesso que eu imaginava, sim, retornar pra dar aula. Sempre quis. Só não poderia prever que seria em um curso superior, que na época era algo que nem se cogitava. Então, voltar para lecionar na faculdade foi especialmente gratificante porque me fez perceber não só meu processo de amadurecimento como músico, mas como este se deu em paralelo ao crescimento do Souza Lima como instituição.

4) Como foi o ingresso na UNICAMP e como avalia a formação do músico popular brasileiro na progressão entre os primeiros cursos lançados na própria instituição Campineira, um outro quase contemporâneo no Rio de Janeiro, tão poucos, e os programas hoje oferecidos em nosso país?

R: Quando ingressei na Unicamp, um curso de música popular em nível superior era muito raro. Nas Universidades públicas, a Unicamp foi pioneira, seguida pela UNIRIO, alguns anos depois. Então sou representante de uma geração que teve que se acostumar a se ver como um profissional que pode ter uma formação acadêmica tradicional, ou seja, frequentar faculdade, como em outras áreas. Nessa época, a pós-graduação em música engatinhava e em música popular, mais especificamente, nem existia. Tive professores maravilhosos na faculdade mas, pelos motivos que mencionei, a grande maioria deles viam o ensino superior com viés mais pratico, menos acadêmico.

Hoje, a maioria dos meus colegas do tempo da graduação são mestres ou doutores. E apesar das dificuldades, estamos nos organizando dentro do contexto acadêmico. Vejo isso com otimismo, porque acredito que estamos criando gerações de docentes que, além de serem grandes artistas, são bons pesquisadores e educadores.  Isso fomenta e viabiliza a criação de mais cursos de excelência em instituições de ensino superior (o Souza Lima é um exemplo) e contribui para o desenvolvimento da música brasileira enquanto área do conhecimento.

5) Como foi a passagem entre o Rodrigo instrumentista do piano e o arranjador? Quais escolhas o levaram ao caminho do arranjo e por si a composição? O contato com Cyro Pereira na UNICAMP contribuiu com essa escolha?

R: Quando entrei na faculdade, já sabia que queria me dedicar a escrever e que o estudo do instrumento poderia ser um pouco sacrificado por isso. A bem da verdade, eu nunca fui um bom pianista. Então foi algo natural. Nesse processo, o Cyro Pereira foi determinante. Não só como professor e principal referência estética no início da carreira, mas como um contato importante no mercado de trabalho. Foi através de uma indicação dele que comecei a trabalhar para Jazz Sinfônica, o que posteriormente viria a se desdobrar em muitas outras novas oportunidades profissionais.

6) Qual o momento decidiu partir ao mestrado nos EUA? E como o mestrado contribuiu na formação do educador e aprimorou ainda mais o arranjador?

R: Após um tempo de atuação no mercado de publicidade, percebi que meu processo criativo e rotina de estudos estavam estagnados. Era um conflito. Porque, por um lado, esse ambiente de produtora é muito dinâmico e criativo, e exige uma versatilidade que te força a conhecer muito de produção e de música de todos os tipos e gêneros. Por outro lado, me via reproduzindo uma queixa que ouvira do próprio Cyro Pereira ao se referir à sua experiência na propaganda: a de não conseguir criar ou produzir mais de 30 segundos de música (tempo padrão de um fonograma publicitário). Nessa época, o Marcelo Coelho estava de partida para o mestrado nos Estados Unidos e me convenceu a ir também. Sou muito grato a ele por esse empurrão. Vi que esta seria a oportunidade de voltar a estudar, sair da rotina e me atualizar. O financiamento da CAPES (que na época mantinha um programa especial de bolsas no exterior para área de artes) garantiu minha permanência por lá durante o período do curso. Aprendi muito. Valeu muito a pena. Mas acredito que, como educador, meus 15 anos de experiência em sala de aula tenham me ajudado mais do que o programa do mestrado em si. Por outro lado, o contato com dois professores, Gary Lindsay e Ron Miller, me fizeram enxergar a carreira de compositor e arranjador de uma perspectiva muito mais séria e realista.

7) Entre os arranjadores que atuam com a Jazz Sinfônica, você é um dos poucos a assinar um concerto integral, senão me engano para Rosa Passos. Como foi o amadurecimento para dedicar-se a uma formação grande com tanto destaque? E quais as dificuldades saltam em uma formação ampla e quais saltam em uma pequena formação?

R: A técnica de escrita relacionada ao tamanho da formação instrumental é muito relativa nesse processo. Independente do tamanho dos grupos para os quais se escreve, tem uma questão prática inevitável, de aprendizado, que tem que ser desenvolvida em um processo de escrever, ouvir, reescrever, ouvir, e assim por diante. Mas quando se fala em amadurecimento, talvez as formações menores exijam mais. Por exemplo, quando se trata de um arranjo de cordas, é muito mais fácil fazer uma orquestra com 40 músicos soar melhor que um quarteto. Isso demanda muito mais que domínio técnico.

8) Levando em conta sua atuação como arranjador, produtor, educador e também ciente da função administrativa que assumiu na Orquestra de Campinas, qual a importância do músico contemporâneo em diversificar sua atuação?

R: Penso que, em primeiro lugar, para estar apto a aproveitar mais oportunidades de trabalho que te permitam dedicar-se exclusivamente à música. Depois, acredito que ter contato com outras atividades relacionadas ao fazer musical, que não sejam necessariamente criação ou performance, te ajuda não só a entender melhor o mercado profissional, mas promove um amadurecimento como ser humano que se manifesta também na sua expressão artística. Em resumo, conhecimento nunca atrapalha.

Caríssimo amigo Rodrigo Morte, agradeço a entrevista.

Eu que te agradeço pelo convite e oportunidade!

A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada, é um legado que com certeza temos em comum.

É um privilégio compartilhar essa jornada com você!

Grande abraço

Outro!

 

Entrevista realizada por mim, João Marcondes, por e-mail em 15 de agosto de 2018. Publicado novamente em seis de junho de 2022.

#VemProSouzaLima