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Quero ser Músico Entrevista: Nelson Faria

violão

Quero ser Músico Entrevista: Nelson Faria

Nelson Faria é um nome cuja associação a música é imediata. Pioneiro na produção de metodologia sobre música brasileira, com livros e livros ensinando seu meio de pensar, também é muito atuante como instrumentista e arranjador para diversos artistas brasileiros. Agora Nelson Faria vem sendo um documentarista da Música brasileira, em sua excepcional série “Um Café Lá Em Casa”. Veja só, outra face!

O entrevistado de hoje para honra de nosso blog é Nelson Faria. Me segue no instagram! @joaomarcondesoficial

Entrevista:

Nome: Nelson Faria
Cidade Natal: Belo Horizonte, MG
Ano de Nascimento: 1963
Instrumento: Violão / Guitarra
Formação Acadêmica: Ensino Superior Guitarra Performance
Formação Livre: GIT, Gamela, Ted Greene

1) Em que ano iniciou sua atuação como músico profissional? Como foi o processo de profissionalização entre Brasília e a vinda ao Rio de Janeiro?

Comecei a tocar profissionalmente com 17 anos aprox. (1980) Morava em Brasilia e tocava em barzinhos. Tinha um Duo com a Zélia Cristina, hoje Zélia Duncan, e tocávamos de quinta a domingo…
A ida para o Rio de Janeiro se deu mais tarde, em 1987, depois que voltei do GIT.

2) Como sua formação musical contribuiu se avaliada a atuação que exerce em sua carreira profissional? Ou muito da formação tiveram como premissa os desafios que surgiram no dia-a-dia do músico?

Acredito que a formação musical de qualquer pessoa deve passar pelos 2 processos. O processo do aprendizado formal e o processo do aprendizado baseado na superação dos desafios. Ter uma boa base de aprendizado formal te prepara melhor para os desafios que você vai encontrar, mas é muito difícil que estejamos preparados 100% então a vivência prática vai completando as lacunas que a formação acadêmica deixou passar.

3) Como você avalia a formação em grau universitário no Brasil dos tempos de sua formação para os dias de hoje? O músico brasileiro tem sido melhor preparado ao mercado de trabalho?

Minha formação Universitária foi “muito louca”… acho que é a única forma que eu tenho pra defini-la. Comecei estudando Economia na UnB em Brasília e tranquei o curso de Economia para ir estudar no GIT , na Califórnia. Voltando de lá, transferi meu curso de Economia para Música, fazendo apenas a prova específica que o curso de música exige. Cursando o 2º ano do Curso de Música em Brasília, numa de minhas idas ao Rio, fui convidado para lecionar na Universidade Estácio de Sá que acabara de abrir o 1º curso superior em música popular do Brasil. Disse que eu não era formado, mas eles me contrataram assim mesmo, com uma licença especial, baseada no ineditismo do curso de Guitarra a nível superior no Brasil. Com essa contratação, tranquei meu curso de música em Brasilia e me mudei para o Rio de Janeiro em 1987, passando a lecionar na Universidade Estácio de Sá. Em 1991 formei minha primeira turma de alunos e então passei a ter uma posição de desvantagem em relação a eles. Meus alunos eram formados e eu não!!!! Fui orientado então a fazer o vestibular para a Estácio e lá fui professor e aluno durante 2 anos. Ou seja, na minha época o Brasil ainda não tinha nem sequer o Curso superior de Guitarra… Fomos pioneiros nesse quesito. Hoje, acredito que a maior parte das escolas tem um currículo e uma prática que prepara o aluno para o mercado. Não foi assim durante um tempo, principalmente quando não tínhamos musica Popular nos currículos universitários.

4) Você atua como educador, sendo também um precursor em conteúdos de improvisação quanto a bibliografia publicada no Brasil, também atua como arranjador, instrumentista… Qual a importância do músico diversificar sua carreira?

Desde cedo em minha carreira, entendi que para tornar minha arte sustentável era preciso atuar em várias frentes. Me lembro bem quando comecei com as aulas particulares e durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro os alunos todos iam embora… desde essa época pensei que não daria para fazer uma coisa só. Descobri a “mágica” da renda residual na vida do músico, ou seja, aquela renda que não é direta de um trabalho, mas que pode render durante muitos anos residualmente. Esse é o caso dos livros, discos, direitos autorais etc…

5) Como sua dedicação como guitarrista auxiliou na atuação como educador?

De uma forma direta, o palco é a melhor forma de conseguir novos alunos. Acredito que a função do professor é inspirar o aluno e o começo desse processo é quando o aluno te vê atuando no mercado.

6) Particularmente conheci seu trabalho como guitarrista da Cássia Eller, com um estilo voltado ao rock, em um programa da TV Cultura, se não me engano, como atingiu a versatilidade que permitiu atuar tão bem em estilos e gêneros tão diferentes?

No começo da minha carreira experimentei muita coisa e descobri que gostava de tudo! Isso pode ser bom para sermos versáteis, mas pode não ser tão bom para criar uma assinatura musical. Com o tempo fui me especializando e criando meu estilo. Hoje, apesar de saber tocar vários estilos, eu me foco no que eu mais curto que é o Jazz brasileiro, com a guitarra limpa.

7) Seguindo a questão, como é para um guitarrista atuar em uma big-band, em um trio, acompanhando um compositor/violonista como João Bosco, e em camadas tão diferentes de um fonograma ou de uma apresentação ao vivo? Quanto tocar e quanto não tocar é um ponto de aprendizagem que sempre levo aos alunos, como funciona para você?

Costumo dizer que temos 2 ouvidos e 1 boca… ou seja… devemos ouvir o dobro do que falamos (ou tocamos). Acredito que o segredo de tocar em conjunto é saber ouvir, e , claro, quanto mais gente envolvida no grupo, mais é preciso ouvir para poder se colocar. As vezes paro e fico ouvindo a banda tocar… se eu não tiver nada bacana para oferecer naquele momento, fico em silencio, até achar o momento certo para colocar uma idéia, um riff, um acorde ou uma frase.

8) Quanto a função de arranjador, e em especial para big-band, necessita dedicação ao músico? Quanto tempo atualmente leva para desenvolver um arranjo?

O instrumento tem alma e é ciumento! Quando nos dedicamos muito a uma outra função na música, como escrever arranjos por exemplo, isso nos tira tempo de convívio com o instrumento e, claro, a intimidade também. É importante ter um balanço entre o instrumentista e o arranjador. Já passei apertos quando , por exemplo, escrevi todos os arranjos para um determinado trabalho com Orquestra ou Bigband e escrevi coisas difíceis pra eu mesmo tocar mas não tive tempo de estudar o tanto que eu gostaria… Todos os outros músicos da banda estando em forma e o arranjador passa os 15 ou mais dias anteriores ao concerto sem conseguir quase pegar no instrumento… cada arranjo leva um tempo diferente. Depende da formação. Costumo escrever um arranjo para Bigband em aproximadamente 2 dias.

9) Levando-se em conta sua estada na Suécia, como o músico brasileiro é visto internacionalmente? E a música brasileira?

Minha estadia na Suécia abriu várias portas para mim na Europa. A música Brasileira, principalmente a Bossa Nova e o Samba-Jazz, tem muita entrada no exterior, seguidos do choro e do samba. Temos muitos músicos de excelência no Brasil e somos muito respeitados e admirados no exterior.

10) Seu programa de youtube Café lá em casa têm sido de amplo sucesso, e será sem dúvida um documento histórico da música brasileira. Como tem sido a escolha das pautas? Os personagens?

O programa começou despretensiosamente e tem alcançado resultados incríveis. No nosso “nicho” somos o canal de maior destaque no Brasil e ganhamos 2 anos seguidos o Prémio Profissionais da Música como Melhor Canal de Música do YouTube.
No inicio os convidados eram do meu circulo de relacionamentos, músicos com quem eu já havia tocado ou amigos que eu admirava. Com o tempo esse círculo cresceu e passei a ter convidados que eu admirava mas que nunca tinha tocado antes e nem conhecia pessoalmente. Hoje as pessoas me procuram muito, temos uma lista com mais de 300 nomes para serem chamados ainda e estamos crescendo de forma exponencial em tempo de visualização e em numero de inscritos no canal. Os personagens somos nós mesmos e acho que isso é que traz a maior curiosidade ao programa. Consigo mostrar os artistas de perto, com intimidade e isso gera uma empatia direta com o público.

11) Qual a importância da internet para o futuro músico profissional levando-se em conta a transformação que estamos passando quanto as mídias que são nossos produtos e portfólios – do LP para o CD, ao DVD e ao Youtube? Como vê a música como produto? Se o Streaming tem vantagens mas de certo modo destruiu, ou terminou de destruir o mercado de objetos fonográficos?

Acho que o melhor ainda está porvir! Acho que o melhor mercado fonográfico de todos os tempos está nascendo agora e nunca tivemos um momento tão bom para divulgação e distribuição de nossa musica.
Antes as pessoas compravam um disco e podiam ouvir esse disco 10 ou 1000 vezes que não fazia nenhuma diferença. Hoje, a cada audição de uma faixa ganhamos um dinheiro. Mudou o paradigma! E mudou pra melhor. Apenas a remuneração dessas faixas é que ainda estão precisando chegar num ponto bacana para todos, mas acredito que em mais 2 ou 3 anos estaremos com o mercado muito mais maduro e profissional.

Hoje temos as rédeas da nossa carreira em nossas mãos. Com as redes sociais é possível encontrar o público que curte nosso trabalho, onde quer que ele esteja! Acho genial tudo isso e estou muito empolgado!

Caríssimo amigo Nelson, agradeço a entrevista. O Souza Lima agradece.

Sou eu quem agradece o convite. Grande abraço!

A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada, é um legado que com certeza temos em comum.

Grande abraço

João Marcondes

Esse artigo foi revisado em 01 de junho de 2022.01