Quero ser músico entrevista: Maurício Bussab

Quero ser músico entrevista: Maurício Bussab

Uma série com intuito de orientar profissionais da área musical. Virão arranjadores, produtores, instrumentistas, intérpretes, empreendedores! Esta já é nossa décima quinta publicação. Já leu as outras entrevistas?

O entrevistado de hoje é o empreendedor Maurício Bussab, que atuou como instrumentista, e consolidou a marca Tratore, protagonista do Mercado Fonográfico Brasileiro. Um prazer imenso entrevistar esse amigo e parceiro, BAC Discos, meu selo, escoa sua produção pela Tratore desde 2005. E reconhece a importância e relevância para a música brasileira desse projeto, na pessoa de seu empreendedor.

Vamos aprender muito com essa entrevista, que agrega extremo valor ao nosso projeto!

ENTREVISTA

Nome:  Mauricio Bussab

Cidade Natal: São Paulo

Ano de Nascimento: 1962

Instrumento: Piano (originalmente)

Formação Acadêmica: Física USP

Formação Livre: Estudei musica com muita gente… em particular com o Hilton Valente (Gogô).

Hilton Valente, é pianista, e docente aposentado da UNICAMP, e que foi de extrema importância para a consolidação da Música Popular no meio acadêmico brasileiro. Que legal! 

1) Como foi seu envolvimento inicial com a música? Chegou a atuar profissionalmente como instrumentista, artista?

Meu pai sempre foi músico amador, mas bastante atuante, foi baixista de um grupo de jazz, seresteiro, compositor… Aprendi a tocar inicialmente com ele.  Depois fui fazer cursos…

Sim, e fui profissional com carteirinha da OMB e tudo. Fui músico muito presente na primeira leva de independentes na época do Lira Paulistana nos anos 1980.

2) Em que ano começou a empreender a marca Tratore? E quais as dificuldades iniciais desse processo?

A Tratore é de 2002. As dificuldades no inicio foram as de qualquer outra empresa, ter seu nome respeitado, capital para investir, dificuldades para contratar, gerenciar, pagar as contas…

2) A Tratore se consolidou primeiramente como apoiadora e propulsora do mercado independente, como distribuidora dos principais nomes desse nicho do mercado fonográfico. Hoje a Tratore permanece no mercado oferecendo outros serviços. Como foi vencer essas etapas? Quais os desafios enfrentados em um mercado tão fragmentado e com inovações quase que semanais?

As mudanças eram anunciadas. Lá em 1999 a gente já sabia que no futuro o negócio seria o streaming. Só não achava que ia demorar 15 anos para chegar, prevíamos que seria muito mais rápido.  Quanto as áreas de atuação, o que achamos interessante é ser este pólo de negociação coletiva. A Tratore investe nas áreas onde faz sentido atuar em bloco, onde podemos ter força como um bloco de independentes.

3) Entre os produtos distribuídos ou hoje representados pela Tratore, qual o impacto da venda física hoje para a atividade do artista em comparação ao produto digital? Como avalia o mercado para um novo artista? O CD é uma mídia que já deve ser descartada?

O CD hoje representa 15% do nosso faturamento, contra 75% de musica digital. O CD é uma ótima mídia para vender em shows, para entregar a contratantes e imprensa. Mas não é uma boa alternativa para descoberta de musica e também não é muito vendido mais em lojas. Mas está longe de ser descartado.

4) Ainda para um novo artista, músico, qual a importância de empreender sobre sua marca? E quanto dessa atenção se consolida na comercialização de um produto digital?

De forma mais geral, investir em si mesmo como marca é muito importante, e entender isso é também importante, saber o que fazer, como manter os fãs entretidos e engajados é igualmente importante.

5) Uma das questões que mais se levanta entre os artistas que produzem seus discos, é que o mercado digital ainda não rentabiliza adequadamente como uma venda mínima dos CDs rentabilizava. Falta aos artistas ainda saberem lidar com as variações desse novo mercado?

Não mudou muito. Antigamente também não era essa maravilha. Hoje os artistas que vendem bem estão tirando um bom sustento do digital. Mas o artista desconhecido no mundo físico hoje é desconhecido no digital. O importante é trabalhar para ser mais conhecido.

6) Como se informar melhor para obter êxito em produção, qualificação sobre esse mercado fonográfico que tem se estabelecido nos últimos dez anos?

Existem muitos cursos presenciais e a distância. Existem seminários como a SIM São Paulo que promovem encontros e debates importantes. Hoje está mais fácil chegar na informação e trocar ideias com os pares.

7) Uma pergunta rápida: Lançar mais singles? Ou compor um álbum anual? 

Os dois ! Faz sentido para alguns artistas fazer uma coisa e para outros o correto é o outro. Artistas pop estão investindo mais em singles e vídeos.

8) Orientando novos artistas, como a formação universitária poderia contribuir com esse novo status do mercado fonográfico?

O que eu acho que falta na formação do músico, mesmo nos cursos de music business é a parte de empreendedorismo básico. Falta entender as ferramentas e boas práticas de mercado. Como fazer um plano de negócios, um canvas, entender os desafios, onde investir, entender que o talento não é só o que está sendo tocado no estúdio e no show, mas que tem muito o que fazer fora dos palcos.

9) Com esse novo formato do Mercado Fonográfico, artistas de grande proporção ocuparam espaços antes da música independente, que hoje patina com a ausência de locais de propagação de seus trabalhos. Muitos músicos diversificam sua atuação. Impossível viver apenas de shows? Como observa a diversificação da carreira do músico artista? 

Discordo da falta de espaços. Pelo menos em SP, os espaços se multiplicaram recentemente para todos os tipos de música. Nunca tivemos tantas casas dedicadas a musica instrumental na cidade, nem a música indie, nem casas de MPB, etc. Nesta cidade aqui estamos vivendo uma era de ouro da música ao vivo. Quanto às diversas fontes de renda, concordo. Os músicos hoje tem muitas fontes possíveis de renda. É preciso saber como combiná-las.

10) Levando em conta o projeto KIWIII, é importante enxergar o trabalho artístico com mais de uma frente? Como trilha? Como obra participe de outra grande arte?

Nem todo artista quer e nem todo artista serve como trilha. Mas existe de um lado um grupo de artistas imenso criando música, de outro lado, da mesma forma como está acontecendo na música, está acontecendo uma proliferação de criação de conteúdo audiovisual e de games. E falta um esforço de juntar estas pontas. A Kiwiii está tentando fazer isso.

Maurício, agradeço imensamente sua contribuição.

Para conhecer a Tratore, clique aqui!

Tenho certeza que sua entrevista será um fator determinante para avaliação de carreira e programação de uma nova geração de músicos, melhor formada, melhor informada.

Um grande abraço

João Marcondes

Entrevista realizada por e-mail em 4 de setembro de 2018.