Quero Ser Músico Entrevista: Kiko Loureiro

Quero Ser Músico Entrevista: Kiko Loureiro

Hoje é uma data muito especial para o BLOG Souza Lima, como autor completamos com essa entrevista (tão especial!) 250 publicações. Tudo isso em um período de apenas um ano. O Souza Lima é conteúdo, é diferença. Forma e informa.

Para essa publicação especial trouxemos uma entrevista surreal. Um nome internacional, provavelmente o maior de sua geração: Kiko Loureiro.

Um músico que estudou no Souza Lima, lecionou no Souza Lima, e contribuiu até mesmo com nossa nova unidade, a Paraíso. Gratidão

Kiko Loureiro guitarrista e fundador da banda Angra, hoje gere uma brilhante carreira de nível internacional. Aclamado em muitos países, Kiko construiu uma carreira muito diversificada. Ministra classes de empreendedorismo pela internet, e também atua como artista de jazz/fusion, educador musical, para em meio a tudo isso(!) excursionar com uma das maiores bandas de todos os tempos, o Megadeth, da qual é integrante!

Para o BLOG, é uma honra dividir as experiências desse brilhante músico, que orgulha e muito nós brasileiros. 

ENTREVISTA

Nome: Pedro Henrique Loureiro
Cidade Natal: Rio de Janeiro
Ano de Nascimento: 1972
Instrumento: Guitarra
Formação Acadêmica: UNESP, em música, incompleta.
Formação Livre: Sílvia Góes, Mozart Melo, Ricardo Lobo, e dentre todas as vídeo-aulas e livros que comprei ao longe de minha vida. Mas citaria os três primeiros nomes como principais, entre outros por aí.
1) Em que ano iniciou sua carreira como músico profissional?
Comecei profissionalmente com 19 anos, tocando. Mas comecei com 16 anos dando aulas para alguns amigos. Não sei se chamaria como profissional. Com 19 anos já viajava para tocar. Um pouco antes também em bares em São Paulo, mas nada assim muito sério.
2) Quais áreas atua ou atuou diretamente como músico profissional?
Como profissional atuei em várias áreas, mas diretamente com shows, gravações, banda própria autoral, com o Angra. No começo fiz trabalhos de sideman com o Dominó, com o Supla, gravei um disco do Guilherme Arantes. Algumas outras coisas mais.
A seguir Workshops pelo Brasil, depois pelo mundo. Gravei video-aulas, por vários canais. Hoje em dia falo sobre music-bussines. Bastante. Palestrei para grandes empresas também, que é uma área um pouco diferente. E também como performance em álbuns solos, em eventos de guitarra. Se ficarmos escrevendo aqui: é um monte de coisa!
3) Como avalia a formação do músico brasileiro nos dias de hoje? Como foi sua formação musical?
 
Tem pessoas incríveis com uma super formação, e outros que são mais empíricos, e que são músicos incríveis. É muito vago perguntar do músicos brasileiro, de uma forma geral porque tem de tudo. A gente sabe que tem talentos incríveis que estudam pra valer, e vão pelo mundo, ou no Brasil mesmo. Em termos de estilo e termos de técnica, e tudo mais.
Minha formação musical começou com um professor de violão em casa. Depois na época de adolescente também tive alguma formação com algumas aulas de teoria, mas em separado. Depois eu tive aulas com o Mozart Melo, tive aula por um tempo com Mozart, tive aulas de piano e musicalidade com Sílvia Góes. Depois com Ricardo Lobo, que era professor da Faculdade, peguei algumas aulas particulares.
Minha formação é meio essa. Mas muito tocando e vivenciando com outras pessoas.
4) O músico brasileiro formado hoje está mais preparado para atender ao mercado de trabalho que nas décadas anteriores? 
Eu sempre falei, mas usava para mim a questão do Music Business, e cada vez ficou mais clara a necessidade de saber isso. Quem sempre ficou ligado, e entendeu a importância de marketing pessoal, do music business em si, de conseguir pensar em uma carreira, pensar e fazer trajetos de médio e longo prazo, conseguiu atingir um posicionamento no mercado da música, no Brasil e fora.
Então, acredito que falta conversa sobre isso. Acho que o mercado mudou muito. E as pessoas não mudaram com a velocidade que o mercado mudou. Então é algo que fica nítido, quem vem novo muitas vezes, alguns vem com uma linguagem nova sabendo como o mercado está funcionando, e outros nem tanto, ficando em um modo de gerir a carreira mais tradicional.
O músico brasileiro acaba sendo vago, por que são muitas situações, acabamos por encontrar um pouco de tudo.
Na grande maioria, que vejo de perto em meu curso de Music Business, vejo uma carência muito grande nesse aspecto. Na grande maioria tem uma carência muito grande.
Fora do Brasil também existe, mas muito menos (os problemas com a questão do music-business). Uma das coisas que aprendi quando comecei a viajar pelo mundo, fora, lá pra trás, muitos anos atrás, foi como o músico estrangeiro, europeu principalmente, estava bem preparado em outras questões além da prática musical. Bem preparado quanto a criação de uma identidade artística, ou dos negócios da carreira do músico mesmo.
5) Entre as atividades que exerceu como professor, artista do Angra, artista solo de jazz-fusion, e hoje a estada no Megadeth – que enche de orgulho nós brasileiros, o que considera como ponto fundamental para a consolidação de sua carreira?
A consolidação da carreira é o tempo de trabalho, presença, constância. Buscar fazer sempre o melhor possível. Ou o que possa fazer como melhor possível. Trabalhar constantemente, não tem muita alternativa. É trabalhar, se dedicar, verificar o que você pretende, (ter) planejamento, sempre procurando se adaptar. E se colocar no que está acontecendo no momento.
É manter isso como um mantra, você repete isso ao longo dos anos, e a partir daí você consolida uma carreira.
6) Observando as turnês do Megadeth, que tem estado no mundo inteiro, como o músico brasileiro é visto no mundo? 
Muito bem visto. Sempre a música brasileira foi uma coisa fantástica, que enche os olhos e os ouvidos dos músicos pelo mundo. Tem muito respeito pela música brasileira, e também os guitarristas que aparecem no Youtube e Instagram, também é muito respeitada. E o Brasil ainda desponta como celeiro de grandes músicos, da MPB dentro da guitarra, que é a área que estou, e para outros instrumentos também.
7a) Sabendo um pouco de sua história, dos estudos de piano com a Sílvia Góes, como vê a questão de gênero no estudo da música?
Quando você começa a tocar você tem que buscar as coisas que te agradam. Os estilos de música que te agrada, pra ficar empolgado com seu instrumento, e tocar o máximo possível. Juntar com os amigos e tal, pra tocar.
Mas e aí deixando a mente sempre aberta, e vai pesquisando, e vai buscando, ouviu falar que um músico e bom, que um outro músico é fantástico, ouviu falar que aquele álbum é fantástico, vá lá e ouça independente do estilo. Vai conhecendo, vai se aprofundando, que cada vez mais você vai descobrindo a beleza da música.
Eu nunca tive preconceito, apesar de tocar um estilo heavy-metal, um super nicho. E de certa forma o fã de heavy-metal, gosta do estilo e ponto final, eu sempre gostei de música brasileira, ouvi muito de música erudita, tentando buscar em outros de músicas elementos que pudesse aplicar no que de principal eu gosto de fazer.
7b) Quais as diferenças que procura (ou não procura) entre seu trabalho artístico voltado ao fusion, alguns vídeos de música brasileira que possui no Youtube, a atuação no Angra e hoje o trabalho no Megadeth? Ou tudo trafega em uma mesma assinatura?
Depende da fase, eu gosto de tocar, e tocar de tudo um pouco. Eu não fico diferenciando muito. Obviamente, esteticamente quando você faz um show ou vai gravar um álbum (você verifica diferenças entre estilos), mas musicalmente as coisas vão criando intersecções, em acordes, melodia. Se você toca na guitarra com distorção, você toca no piano, ou com o violão, muda um pouco isso e te leva pra caminhos diferentes. Então, quando mais conhecimentos, quanto mais estilos você tiver em suas mãos, mesmo que não seja de forma muito profunda, você sempre pode utilizar os elementos da música que você quer fazer.
8) Percebi em um show do Megadeth em São Paulo por volta dos anos 2000, embora eu não seja referência para falar de Rock, que alguns fãs esperavam do guitarrista anterior, que ele tocasse o mesmo solo gravado originalmente. E como ele parecia improvisar (eu adorei o solo por que provavelmente não conhecia tão bem o original, mas um amigo revelou a frustração). Como tem sido atuar em um grupo de repertório tão consagrado? Há espaço para improvisação? 
Sobre improvisação, tem uma leve improvisação. Nem sou um cara que gosto muito de ficar improvisando, quando o solo está lá, ele faz parte da música.
Além disso o show é bem marcado, por várias questões. A gente já sai para o show com o setlist pronto, de acordo com o que foi combinado, a iluminação está marcada, as contagens estão marcadas, o show é muito bem ensaiado. Não tem variação, com solo maior, ou um estica o solo aqui e ali.
A improvisação não acontece por que a gente já tem uma programação de mudanças de timbre da guitarra, por exemplo, todas marcadas. E no show, as músicas tem um painel atrás, que faz com que tudo tocado esteja completamente sincronizado com o vídeo.
9) Seguindo a questão anterior: Se o público espera um solo original, o rock se estabelece de forma muito próxima aos valores que consagrados música erudita. Como avalia esse paralelo?
Quanto ao valor da música erudita, mais ou menos, porque ele tem que ser próximo da realidade fonográfica, ele dá uma liberdade de se alterar um pouco. Tocar dando uma interpretação um pouco diferente. Ou em uma escala rápida, você faz do seu jeito, que é completamente diferente do que um outro guitarrista poderia estar fazendo, em um momento da música. Tem uma variação, mas como disse, não é um improviso tipo jazz, que a pessoa entra no palco sem saber que solo vai fazer, que o solo realmente vai nascer ali.
Então é um meio termo. É um discurso treinado, que abre para pequenas variações no meio, de acordo. Diferente do erudito que a música está ali por séculos sendo tocada nota por nota, perfeitamente.
10) Quais os próximos passos de sua carreira como educador, nos cursos de empreendedorismo, e quanto ao seu trabalho artístico?
O curso de empreendedorismo, music-business, dei uma palestra no Sebrae agora, setembro de 2018. Fiz também um evento de marketing em Minas Gerais, de marketing digital, de internet, muito forte, falando desse lado desse empreendedorismo da música, que acaba não tendo tanto.
O próprio Sebrae buscou fazer isso, por que reconhece que pode haver mais coisas que fomentem o empreendedorismo no campo das artes e da música, em especial.
E agora, ainda sigo em turnê com o Megadeth, em alguns shows. Em 2019 tem o Rock in Rio que está marcado, e o cruzeiro do Megadeth que vamos fazer também. E vamos compor um novo álbum para 2019 da banda.
Também terei eventos de divulgação da minha guitarra da Ibanez, aqui nos Estados Unidos mesmo. Sigo fazendo minhas ações na internet, artísticas e de music-business.
Caríssimo Kiko Loureiro, agradeço a entrevista. 
Muito obrigado a você, e ao Souza Lima!
A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada, é um legado que com certeza temos em comum.
 
Grande abraço
 
João Marcondes
 
Entrevista realizada por em 20 de outubro de 2018, revisada e republicada em 23 de junho de 2022.