Quero Ser Músico Entrevista: Ivan Freitas

Quero Ser Músico Entrevista: Ivan Freitas

Precisamos comemorar e enaltecer aqueles que fazem ou fizeram a diferença na atuação como músicos. Assim, a série Quero Ser Músico Entrevista traz Ivan Freitas, luthier e empreendedor, guitarrista, que consolidou uma das principais marcas de instrumentos customizados do mundo.

Na entrevista falaremos dos desafios do empreendedorismo, do funcionamento e das especificações fundamentais para quem pretende ser Luthier. Afinal, muito está na prática, e no aprendizado que se consolida oralmente.

A lista de quem usa instrumentos Music Maker do luthier Ivan Freitas é extensa: Michel Leme, Djalma Lima, Tomati, Tuco Marcondes, Nuno Mindelis, Fábio Leal, João Castilho, Davi Moraes…

ENTREVISTA:

Nome: Ivan Freitas

Cidade Natal: São Paulo

Ano de Nascimento: 1970

Instrumento: Guitarra

Formação Acadêmica: Nenhuma

Formação Livre: O aprendizado com outros luthieres, mestres.

1) Em que ano iniciou sua atuação como músico profissional? E especialmente como luthier?

1985 como guitarrista, e 1988 como luthier.

2) Quando começou a empreender sobre a marca Music Maker? Hoje a Music Maker produz quantos instrumentos ano e com quantos colaboradores?

Após aproximadamente 20 anos prestando serviços para músicos profissionais, em 2007 devido a uma grande demanda por parte dos músicos comecei a empreender diretamente a marca Music Maker. Hoje produzimos em média 200 instrumentos/ano. São 12 colaboradores que formam nosso time Music Maker – entre fábrica, pintura, finalização, regulagem e setor de vendas.

3) O que a Music Maker ofereceu que a diferenciou no mercado de guitarras concorrendo com marcas consagradas internacionalmente?

O principal diferencial da Music Maker é oferecer instrumentos customizados, que atendam a necessidade do músico, do guitarrista, violonista ou contrabaixista. E com um valor competitivo ao produto internacional, e utilizando as melhores peças disponíveis no mundo, criar um instrumento próprio ao instrumentista – único.

4) Então, o que um guitarrista espera de um instrumento customizado que uma marca em série não oferece?

Geralmente o instrumento em série não oferece as especificações que cada músico procura. Aí vem o sonho. Um captador diferenciado, uma tarraxa diferenciada, um escudo, uma pintura. Os produtos da Music Maker possuem o que há de melhor quanto a peças e com diferenciais na madeira que se destacam entre as marcas tradicionais e outras que também oferecem instrumentos customizados.

5) Como sua dedicação como guitarrista auxiliou na confecção dos instrumentos e no desenvolvimento das regulagens para outros instrumentistas?

A minha dedicação como guitarrista auxiliou para eu perceber que a indústria brasileira e os profissionais estavam muito atrasados em relação as grandes marcas consagradas. A Music Maker procurou se alinhar ao mercado internacional e inovando ao mesmo tempo.

6) Como é empreender no Brasil em um mercado tão fragmentado e desfavorável ao empresário?

Ser empreendedor neste segmento no Brasil é muito difícil. A matéria prima e os componentes são importados o que resulta em uma taxação muito elevada. A mão de obra também é um fator, embora na Music Maker, todos os instrumentos passam por mim, em todo processo. O que faz com que eu contribua com a dinâmica e desenvolvimento dos produtos e da própria mão de obra. É estar atento o tempo inteiro, trabalhando em conjunto, avaliando cada processo.

7) Marcas como Tagima, Finch e Giannini, são precursoras na produção de instrumentos elétricos no Brasil, como as variações do mercado levaram essas marcas a finais tão diferentes? E como é atuar nesse mercado com a invasão de instrumentos chineses originais e falsificados?

As primeiras fábricas que produziam instrumentos no nosso país eram cem por cento brasileiras, desse modo a falta de informação e de profissionais pouco qualificados comprometeram a integridade do produto, até que no início da década de 90, a entrada dos instrumentos chineses praticamente aniquilou a indústria brasileira, com exceção da marca Tagima, que começou a produzir a maior parte dos seus instrumentos justamente na China, mantendo uma produção no Brasil de apenas 5%.

Atuar nesse mercado é complicado. Embora seja uma concorrência indireta, eu trato com o sonho, com a realização final do instrumentista, ou até mesmo do colecionador.

8) Como desenvolve seus instrumentos para músicos tão diferentes e necessidades tão específicas? Quanto de pesquisa está no desenvolvimento de cada instrumento?

O desenvolvimento é sempre feito em uma relação mútua entre o músico solicitante, e eu, o luthier. Os músicos chegam com as ideias e nós fazemos um direcionamento para chegarmos às especificações desejadas quanto a timbre e visual. Com escolhas específicas do modelo, da madeira, ao captador, e outros elementos.

9) Como é a formação de um luthier no Brasil? E quais requisitos para um músico que pretende se dedicar a carreira de luthier?

Hoje a formação no Brasil é bem mais acessível do que na minha época. Atualmente existem escolas, cursos e a própria internet que dispõem de conteúdos para a formação do luthier. Para ser um bom luthier é preciso ter muita dedicação, comprometimento e excelência profissional, seja para uma simples regulagem ou algo mais complexo na confecção integral de um instrumento.

Caríssimo Ivan.

A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada, é meu legado.

Grande abraço

João Marcondes

Entrevista realizada por e-mail dia 12 de julho de 2018.

Esse artigo e entrevista foi revisado em 01 de junho de 2022.

#VemProSouzaLima