30 maio Quero ser músico entrevista: Adonias Jr
A série Quero ser Músico, do BLOG Souza Lima, inicia sua etapa de entrevistas para contribuir com a formação do futuro músico profissional. O primeiro nome entrevistado é de Adonias Jr – músico profissional atuante como engenheiro de som – uma figura onipresente na discografia brasileira.
Aproveite as orientações e experiências desse fantástico profissional!
Entrevista
Nome: Adonias Farias de Souza Júnior
Cidade Natal: Belo Horizonte
Ano de Nascimento: 1972
Instrumento: Trombone/guitarra/baixo elétrico
Formação Acadêmica: Física (Unicamp/UFPR) e Licenciatura em Música.
Formação Livre: eletrônica, elétrica industrial, gráfica, gerenciamento comercial, programação de computadores
1) Em que ano iniciou sua atuação como músico profissional?
1993
2) Quais áreas atua diretamente como músico profissional?
Engenharia de som, direção musical e arranjos – nos últimos anos.
3) Como foi a opção de se estabelecer como engenheiro de som ante a formação musical e a formação em física?
Desde muito menino tinha paixão pelo áudio, gravando fitinhas cassete com meus amigos de adolescência – músicos.
Ao começar a tocar profissionalmente em gravações essa paixão reacendeu com muita força, e então descobri o que eu realmente queria fazer pra viver. Demorou uns aninhos pra conseguir mudar de profissão totalmente, mas fui direcionando a isso através do desenvolvimento das relações profissionais e do conhecimento.
4) A experiência como instrumentista auxiliou no desenvolvimento da carreira de engenheiro de som quanto aos processos de gravação, mixagem e masterização?
Totalmente! Saber tocar instrumentos com profundidade faz o engenheiro de áudio saber o que o músico espera como resultado da interação homem-instrumento, e isso instiga a percepção auditiva e a procura pelo resultado.
5) Dentro do leque de atividades do engenheiro de som, da gravação, do monitoramento e captação ao vivo, da mixagem e masterização, e em um país tão extremo como o Brasil, quais as principais dificuldades encontradas quanto a equipamento ante espaço físico e acústica?
Se por um lado encontrar estruturas abaixo da linha do razoável nos faz sofrer e lamentar, por outro nos faz melhores quando queremos fazer além do que nos é oferecido.
É delicioso fazer um resultado excelente com estrutura precária, pois ai nos mostramos artistas do áudio (extratores lácteo-rochosos).
Claro que o ideal é ter estrutura apropriada, bons equipamentos, salas bem projetadas….isso faz a arte saltar a um outro patamar.
6) Quais equipamentos fazem parte do cotidiano na atuação externa de um engenheiro de som? E qual o ponto que determina o trabalho bem realizado?
Microfones-cabos-prés-processadores-conversores-processadores digitais- conversores – transdutores.
Não se deve pensar em uma das etapas como salvadora do projeto ou ação.
Equilíbrio e compatibilidade é a busca.
Quando falo equilíbrio não digo tudo do mesmo nível, mas se vc tem um conversor com alguma deficiência, por exemplo, um pré de nível mais alto compensará o sistema.
Ideal? Tudo de melhor e de mais lindo, mas saber equilibrar é o ápice da arte.
7) Os recursos tecnológicos inegavelmente otimizaram os processos de gravação, dada sua experiência, de certo modo algumas questões tecnológicas diminuíram a dedicação do instrumentista a prática e resolução das questões de seu instrumento? O que dizer para a nova geração de instrumentistas?
O barateamento, compactação e variedade de equipamentos melhoraram a relação custo- qualidade do processo de gravação. Antigamente tinha que estar numa acústica perfeita, com instrumento maravilhosos e os melhores equipamentos, tocando de primeira ou em poucos takes o que se pretendia. Então o preparo era extremo.
Hoje você pode pegar um instrumento médio, gravar muitas e muitas vezes, editar, corrigir, processar, testar….ficou muito mais fácil.
A criatividade agora não tem limites, mas a qualidade da performance ficou elástica quando se fala em gravação. Mesmo com tudo isso ainda é lindo ver performances primorosas em instrumentos bem regulados e de qualidade, com rápida obtenção do resultado desejado.
Portanto, se pretendem ser bons músicos de estúdio tenham variedade de linguagens, instrumentos prontos e de qualidade, técnica em dia, leitura de cifra e partitura com velocidade. E acima de tudo desenvolvam a percepção musical e das relações.
Muitas vezes entender o que o produtor ou cliente quer é mais importante que tocar “muito”.
8) Ainda baseado nessa experiência, a tecnologia auxilia até que ponto na construção de uma obra artística?
Poder testar e se escutar muitas vezes sem deterioração do material torna o tempo algo sem relevância. Sei de um artista (gringo) conhecido que chega a gastar uma semana apenas na definição do som de bumbo e caixa de um disco.
Ter tempo é poder testar e atingir a perfeição. Mas busca deve ser a perfeição, com a percepção do processo evolutivo, senão fica apenas “rodando lâmpada” sem chegar a lugar algum.
9) O que sugere para desenvolver o processo de atuação profissional de um futuro musicista que pretende ingressar na área de engenharia de som?
Escutar crítica e analiticamente muitas gravações – de estilos, equipamentos, técnicas, tudo isso deve ser perceptível para o aspirante a profissão. Nesse processo deve desenvolver a audição acima de tudo.
“Virar botão” é fácil, qualquer um sabe. Saber registrar com excelência o que um músico produz é fazer com que ele se reconheça na gravação.
Escute muito, e de vários estilos, de várias épocas procurando saber como aquilo foi feito – equipamento, sala, técnica….
Procure conversar com profissionais de outras épocas e estilos – isso abrirá a compreensão da aplicação de processos.
10) Dentro da sua discografia e de seu rol de atuação como engenheiro de som, encontramos desde a captação de uma orquestra, quanto solistas, e big-band, como é atuar de forma tão diversificada?
Gosto de música. Sou profundo em entender o que o músico quer expressar. Meus ouvidos são desenvolvidos por conta da audição crítica há muitos anos.
Minha estética é a transparência . Sou visível por ser transparente! A busca por revelar o máximo possível da expressão artística através da fonografia é o que me move.
Meu primeiro instrumento, o trombone, é escutado desde marchinhas de carnaval em desfiles de blocos até solando com uma orquestra de altíssimo nível. Isso me fez perceber que você pode falar vários idiomas com a mesma voz.
Tenho paixão pelos instrumentos e suas especificidades, por isso onde eles estão eu estarei.
Claro que tenho limites de prazer estético, vocação estilística e foco profissional. E para isso limito minha área de atuação a estilios musicais bem definidos, o conhecimento técnico amplo me faz ser capaz de trafegar por eles com a mesma profundidade.
OBRIGADO!
Caríssimo amigo Adonias Júnior, do Estúdio Arsis, e dezenas de álbuns referencias, agradeço a entrevista. A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada, é um legado que com certeza temos em comum.
Grande abraço
Entrevista realizada por e-mail por João Marcondes, em maio de 2018.
Essa publicação foi atualizada em 30 de maio de 2022. Vamos em frente!