Quero ser Musicista Entrevista: Patricia Lopes

Quero ser Musicista Entrevista: Patricia Lopes

A série Quero ser musicista Entrevista segue sua toada no universo feminino de atuação profissional. Hoje especialmente a musicista Patricia Lopes traz suas experiências mais profundas de formação, capacitação e consolidação de carreira! Sua morada em Portugal, e o lançamento de seu mais recente trabalho artístico.

Serão vinte entrevistas! Hoje chegamos na nona, e vale conferir uma experiência repleta de matizes e desafios inspiradores para quem deseja se tornar profissional no ramo da Música! 

Agradeço de antemão a entrevistada, e vamos lá em mais um momento de inspiração!

ENTREVISTA #9

Nome: Patricia Lopes

Cidade Natal: Londres – Inglaterra

Ano de Nascimento: 1967

Instrumento: Piano

Atuação: Composição

Formação Acadêmica: Graduação em Licenciatura em Música – UnB (Brasília – DF), Mestrado em Composição Musical – UFRJ (Rio de Janeiro – RJ), e Doutorado em Processos de Criação Musical – USP (São Paulo – SP)

As duas professoras mais importantes na minha formação como pianista e compositora foram a concertista Linda Bustani (1995 – 1997) e a compositora Marisa Rezende que foi minha orientadora do Mestrado em Composição Musical na UFRJ (1999 – 2002).

1) Como foi seu envolvimento inicial com a música? Quando decidiu intensificar a atuação e de fato profissionalizar-se?

Desde quando comecei a estudar música/piano, aos 6 anos de idade, sabia que não haveria outra profissão a seguir a não ser a de musicista. Com 12 anos de idade resolvi intensificar meus estudos, e tinha vários professores particulares. Cheguei a ter aulas de violoncelo pois desejava seguir a carreira de compositora e sabia que era importante ter alguma experiência com um instrumento de arco e não só com o piano. Nesta época, aos 12 anos, tinha aulas de música na Escola de Música de Brasília e também no Instituto de Música daquela cidade. Quase todo o meu tempo era consumido por aulas e pelo estudo individual.

2) Quais as principais barreiras encontradas para o desenvolvimento de sua carreira de instrumentista e compositora?

Eu acho que a principal barreira que encontrei foi a falta de valorização da profissão do artista. Percebia que havia uma crença de que ela valia menos. Ainda hoje percebo que ela é vista como uma atividade à margem das profissões ditas “nobres”.  Entretanto, não conheço outro profissional que estude tanto quanto um músico! Se fôssemos remunerados na nossa atividade proporcionalmente ao nosso tempo de estudo, assim como os advogados, médicos, engenheiros, etc. seria realmente um paraíso! O que tenho visto até hoje é que a maioria dos músicos precisam ter outra fonte de renda como por exemplo exercer atividade de professor, ou trabalhar com publicidade – com criação de jingles e trilhas sonoras -, ou como performers no ramo do entretenimento, ou exercendo um side job, ou ter apoio financeiro da família.

3) Como é gerir uma carreira que possui a docência o viés acadêmico e artístico? Todos os engajamentos fazem parte de um mesmo processo ou para você são dinâmicas separadas?

Eu comecei a dar aula de piano com 12 anos de idade. Na área da docência, atualmente, tenho somente alunos particulares. Ser professora de música foi uma atividade que desenvolvi desde muito nova e é uma atividade muito enraizada na minha vida. Adoro meus alunos e não saberia viver sem eles. Mas são dinâmicas separadas e distintas.

4) Complementando a questão anterior: Qual a importância de diversificar para carreira de musicista? 

Quero cada vez mais me dedicar à minha carreira de musicista exclusivamente. Cada minuto é importante para mim. Gosto de dar aulas mas no momento tenho poucos alunos, somente os mais queridos, rs. E estou feliz assim!

Minha atividade principal hoje é como compositora. Tenho recebido encomendas de composição, o que me deixa muitíssimo feliz! E como pianista acabo por tocar somente as minhas composições. Utilizo o tempo da minha semana principalmente para a composição, em segundo lugar para o estudo do piano (do repertório), e em terceiro lugar para gerar as oportunidades para me apresentar, ou seja, faço trabalho de produção através de e-mails e etc.. Este trabalho de produção não é muito divertido, devo confessar, rs. Mas é fundamental para que eu possa mostrar meu trabalho. Estou muito focada em aprender mais sobre o music business para poder gerar mais oportunidades de trabalho para mim. Acredito que há espaço para todos e para minha música também.

5) Entre seus projetos artísticos, como ouvir e o que ouvir de seu trabalho?

Meu trabalho está no meu website patricialopes.net

Lá há um link direto para o meu canal do youtube onde tem algumas das minhas músicas e entrevistas também. No momento estou bastante focada no meu projeto “O feminino em Pessoa” que é um ciclo de canções que compus inspirada pela obra do poeta Fernando Pessoa, e que têm um olhar para o feminino. Este projeto foi gravado e conta com a participação de músicos maravilhosos! Abaixo estão os links do spotify e do itunes com todas as músicas deste projeto:

Spotify – O feminino em Pessoa

Itunes – O feminino em Pessoa

6) Como verifica a carreira do musicista hoje, em comparação ao momento em que profissionalizou, tanto sobre mercado quanto sobre a formação, hoje com graduação, e faculdade como percurso praticamente realizado por todos? É fundamental graduar-se para ingressar na carreira de musicista?

Hoje em dia tudo está muito diferente do que quando eu comecei. A era digital mudou muita coisa e acredito que tenha acelerado o processo de aprendizagem. Há tantos jovens músicos brasileiros excelentes hoje! Vejo tanta dedicação por parte dessa nova geração! Na minha época, quando eu era adolescente, para tirar uma música nova de ouvido, ou tirar a letra de uma música, era necessário conhecer alguém que tivesse o disco (vinil) com a música e ir até a casa dessa pessoa para ouvir e tomar nota, rs. E para ter uma partitura de qualidade, em especial da Urtext, era necessário ter o contato de um livreiro para fazer uma encomenda, a qual demorava séculos para chegar, rs.  A noção de tempo era outra…

Em relação ao estudo acadêmico, tudo se multiplicou. Há muito mais profissionais hoje, mais professores e mais escolas. Acho importante o estudante de música fazer graduação para a fixação da carreira. Vejo muito mais por uma questão humana de relacionar-se com outros músicos e de ocupar o tempo o máximo possível somente com a atividade da música. Acredito que isso possa ajudar o adolescente a se firmar como profissional, não só pela grade curricular, mas pela convivência com outros colegas músicos e professores também. Serão seus companheiros de carreira, mais adiante. Estudar é simplesmente tudo! Mas é muito importante também não se isolar. Os músicos têm uma tendência muito grande a isolarem-se, até pela necessidade de se dedicarem tanto ao estudo individual. Mas somos humanos, não somos máquinas, e precisamos uns dos outros.

Perfeito Patricia! Completamente de acordo!

7) Os mesmos problemas que temos na sociedade brasileira se refletem no mercado musical? As oportunidades e consolidação da carreira das musicistas é o mesmo para os musicistas? Como foi essa consolidação para você? 

Eu como mulher musicista enfrentei muitos desafios. O meio musical é essencialmente masculino e por isso precisei desenvolver habilidades de sobrevivência e convivência. Precisei principalmente fortalecer minha autoestima. Não é por acaso que quis ter um olhar para o feminino neste meu projeto inspirado nas poesias de Fernando Pessoa.

8) Ciente de sua morada momentânea em Portugal, como é visto o músico brasileiro neste país? Como tem sido visto seu projeto sobre Fernando Pessoa em seu país de origem?

O músico brasileiro é muito bem visto em diversos países, não só em Portugal. Aliás o artista brasileiro é muito bem visto! Estou morando em Portugal há mais de um ano e planejei minha saída do Brasil. Sinto muita saudade da minha família, dos amigos e da cultura do meu país, mas por outro lado tenho muito mais oportunidade de mostrar meu trabalho não só aqui mas também nos países do norte da Europa. Meu projeto foi muito bem aceito aqui em Portugal e conto com o apoio da Casa Fernando Pessoa.

9) Quais projetos fazem parte da sua estada em Portugal e quais projetos tem em vista daqui para o futuro?

Tenho tido encomendas de composição dos músicos daqui. Isso me deixa muito feliz! E eu acabo de voltar de uma viagem à Holanda porque estou montando uma tour  lá com esse projeto do Pessoa para o próximo ano e com músicos holandeses (depois conto mais sobre isso;)) Este projeto será cantado metade em português e metade em holandês. Estou fazendo as adaptações das canções para holandês com as traduções de August Willemsen das poesias do Pessoa para o holandês. Estou neste momento bastante concentrada nisso. Quando eu tiver datas confirmadas e mais detalhes e etc. eu aviso a todos!

Bacana, podemos acompanhar estas novidades pelo site que deixou lá em cima!

Quero agradecer por esta oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho. Espero ter ajudado a incentivar, de alguma forma, jovens musicistas a seguirem a carreira. É sem dúvida uma profissão que proporciona momentos muito gratificantes e recompensadores. Hoje tenho a certeza que há espaço para todas as músicas, inclusive para a minha.

Patrícia muito obrigado! Agradeço a contribuição com esse espaço de aprendizagem! Estamos conectados ao mundo e com todos os profissionais que defendem as necessidades de nossa profissão!

Muito obrigado pela espaço! E daqui do Brasil desejamos todo sucesso!

Professor João Marcondes

Entrevista realizada por e-mail em 31 de julho de 2019.