Qual o pior sistema de escrita musical?

Qual o pior sistema de escrita musical?

Qual o pior sistema de escrita musical?

Bem, não há sistema de escrita musical pior que o de Cifras da Música Popular.

As cifras, como costumo falar em classe, é um ornitorrinco belo e gracioso, ousado e venenoso. Tem ferrão, bota ovo, tem bico e amamenta.

As cifras da música popular é um conglomerado repleto de incoerências. Algumas delas extrapolam o juízo e o raciocínio. Basta entrar nesses sites de cifras para compreender o tamanho do problema.

A partitura é pura precisão: pauta alturas e durações estabelecendo um resultado coerente.

Notas escolhidas, ritmo claro, tudo perfeito! Pense nisso! Se sua obra for amarrada o suficiente para. Do contrário obras medianas precisam da qualidade dos instrumentistas.

Pense que por sua vez a tablatura propõe, de modo preciso assim como a partitura, mas a sua maneira (sem ritmos), as alturas da execução musical para os instrumentistas de cordas pinçadas – contrabaixistas, violonistas, cavaquinistas, e guitarristas.

Daí vem a Cifra com seu encantamento por tratar-se de uma linguagem interpretativa que permite ao músico tecer contribuições na execução. Interagindo a partir dos conjuntos, o instrumentista propor sonoridades definindo quanto a posição aberta e fechada e até mesmo propondo inversões principalmente para aqueles que tocam em regiões agudas apoiados por um contrabaixo.

O principal problema que surge ao sistema é a ignorância dos músicos que querem propor “acorde correto”. Que acorde correto? Não há. A beleza na cifra está na abertura que ela proporciona.

Precisa ser fechado é partitura. Nota por nota, ritmo por ritmo, expressão por expressão.

Um acorde precisamente escrito em uma cifra acompanhada de escrita geográfica – desenho aplicado no instrumento, é uma aberração. Como ler dois códigos para representar algo?

O segundo problema das cifras, mas não menos importante, está na maneira que se reúnem símbolos, números, letras e termos. Um verdadeiro conjunto de incoerências.

Em uma única publicação é impossível tratar disso e para tal escrevi um livro discutindo todos os problemas observados. Mas vamos falar de dois casos que vivi recentemente atuando em um livro internacional:

1| F/G

O que se propõe como leitura? Fá maior com baixo em sol.

Em uma aula de teoria aprendemos que o acorde pode ser invertido a partir das notas que compõe o conjunto. Uma tríade pode estar em estado fundamental, ou com baixo na terça que se trata da primeira inversão, ou com o baixo na quinta que se trata da segunda inversão.

Daí o músico, muito agressivo em seu comportamento, diz que se trata de uma “cifragem correta por obter uma sonoridade específica com essa cifra”. Sonoridade específica, como já tratamos aqui é com partitura, nunca com uma cifra.

Como explicar em um livro destinado para iniciantes o que é esse acorde?

Fá, lá e dó formam um fá maior, e o baixo está na nona? Piada.

Então, esse acorde na verdade tem um conjunto é claro, sol é fundamental, dó é a quarta justa, fá é a sétima e lá é a nona maior. O acorde está sem a quinta justa tocada, mas qualquer pessoa com o mínimo de entendimento musical sabe de duas coisas: 1| A quinta justa é onipresente pela série harmônica da fundamental. 2| Por ser onipresente é quem cai em um instrumento com limitação de quatro sons executados tal qual em um violão ou guitarra.

Em um livro ou em uma cifragem profissional a cifra precisa ter de maneira clara a função que cumpre o acorde, provavelmente nesse caso, uma função dominante seguindo os livros de Harmonia da Berklee, o que mais uma vez justifica a cifra correta: G7sus4.

“Ah, mas não quero a quinta justa tocada”. 1| Discute com a física pela onipresença. 2| Escreve em partitura nota por nota que é algo que deixa claro os acordes em música desde o início da homofonia.

Inversão apenas com notas que fazem parte do conjunto do acorde – diz a teoria musical. Quer rever a teoria? Escreva um livro.

2| Acorde Xm7(b5)

Prometo ser rápido.

Aprendemos que todo acorde Xm é um tríade menor, com fundamental, terça menor e quinta justa. E aí inventam esse b5 entre parênteses onde quase a totalidade dos alunos compreende que o acorde tem duas quintas, uma justa e uma diminuta.

E sem falar que misturam sinais de altura em meio a cifra, é muito ruim.

Sem mais, mais conhecimento, menos ignorância.

#VemProSouzaLima