Quais as características do samba-exaltação?

Quais as características do samba-exaltação?

Quais as características do samba-exaltação?

O samba exaltação é uma ramificação natural da prática do compositor popular desde 1939. Parte-se a princípio em meio as características peculiares do samba – ritmo languido, sincopado, em andamentos médios, instrumentação com percussões-violões-cavaquinho-vozes, harmonia com tríades e tétrades apenas quando dominante primária ou secundárias, e melodia lírica.

O samba-exaltação é uma invenção de Ary Barroso, que passa a propiciar harmonias pouco mais sofisticadas, a partir da composição Aquarela do Brasil. Logicamente a composição ou a forma de se compor este tipo de samba está relacionado ao momento político que o país vivia naquela altura com Getúlio Vargas e o Estado Novo.

O estado Novo era um regime autoritário, anticomunista pela Lei de Segurança Nacional, e de extremo nacionalismo, que perseguia e censurava a imprensa e os meios de comunicação.

Justo posto é possível afirmar que embora o samba-exaltação surja com amplo valor artístico, consolida-se para apaziguar ou enaltecer de modo a equilibrar o momento vivido no Brasil entre 1937 e 1946.

Na harmonia há mais movimentação, como a alteração na quinta justa de um acorde maior, constituindo tão famoso ciclo harmônico da música brasileira (A A+ A6 A+). Nada, no entanto, supera a forma em que a letra se estabelece. Vamos conhece-la?

Ary Barroso, letra e música para Aquarela do Brasil

Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos

O Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor

Brasil pra mim
Pra mim, pra mim

Ah! Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil, pra mim

Deixa cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor

Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado

Brasil pra mim
Pra mim, pra mim!

Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto

O Brasil samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor

Brasil pra mim
Pra mim, pra mim!

Oh, esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil pra mim

Ah! Ouve estas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah! Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro

Brasil pra mim, pra mim, Brasil!
Brasil pra mim, pra mim, Brasil, Brasil!

Retrato

Uma composição estonteante com palavras que marcaram a composição no tempo, afinal não andamos por aí falando merencória, inzoneiro, ou trigueiro.

Confesso que na interpretação real sobre o uso das palavras e das frases que compõe a obra ora compreendo como uma ampla e fundamental exaltação, ora compreendo como um lamento pelo momento vivido que tanto descreve a senhora branca da casa grande, e de forma merencória (melancólica) vivencia os contrastes sociais que estão até hoje no cotidiano brasileiro com a hiper sensualização do afro-brasileiro.

Evidentemente esta composição serviu de alicerce para definir o que é samba exaltação, e influenciou diretamente o samba enredo. Precisamos exaltar mesmo o Brasil? Ou precisamos resolver os nossos problemas, já que exaltar é crer que mesmo assim está tudo bem?

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Um abraço, até já!

Professor João Marcondes

#VemProSouzaLima