Música ruim não possui harmonia?

Música ruim não possui harmonia?

Música ruim não possui harmonia?

A soberba de quem avalia qualidade por quantidade de informações está presente na música tal qual em outras áreas do pensamento humano. Música ruim não possui harmonia?

A pergunta de um de nossos leitores traz exatamente um emblema de um pensamento musical distorcido que valoriza excessivamente a harmonia em detrimento a outras áreas da prática musical.

Em produção musical uma música que não tem harmonia é chamada de densidade harmônica nula.

A harmonia é um valor musical coadjuvante, e que pela forma com que a reconhecemos possui na história da música não mais que duzentos e setenta anos. Vale lembrar que a música escrita possui mil anos de história.

A prática harmônica, aquela que preenche uma camada inferior na percepção humana, como acompanhamento remete ao período clássico. Os acordes, conjuntos de notas, passam a ser executados como blocos sonoros abandonando o caráter polifônico, típico da música barroca e renascentista.

Aí então esbarramos em um primeiro ponto: o canto gregoriano, prática musical eclesiástica de origem medieval, não possui harmonia, nem como a conhecemos e nem como será nas práticas renascentistas e barrocas. Isso diminui seu valor?

A música renascentista inaugura através da polifonia o que reconhecemos como harmonia. Mas ocorre que essa harmonia se dá ao encontro de melodias.

Quatro vozes, com sentido de quatro melodias diferentes, entoadas pelo agrupamento coro.  Vozes de baixo, tenor, contralto e soprano, com a resultante harmônica valorada.

O mesmo processo renascentista ocorre na música de estilo barroco, mesmo que a prática seja instrumental ao invés de vocal, a harmonia será revertida e percebida em decorrência da prática melódica. Ou seja, a harmonia se comporta de maneira diferente da que conhecemos em uma bossa-nova. Um bloco de notas que acompanha uma única melodia.

Evidentemente que a pergunta do leitor provavelmente se refere a música popular. Assim então por considerar relevante, como poderíamos diminuir o valor de um estilo ou gênero musical consagrado, ou definir sua qualidade pela quantidade de acordes que ocorrem na prática musical?

Música popular?

RAP? Ritmo e poesia. O RAP é uma música de muitíssimo valor artístico que passa longe de usufruir da harmonia. E daí?

A Música Caipira de Tônico e Tinoco se comporta de maneira medieval sem dialogar com harmonias elaboradas a priori. E daí?

Se o problema então é o Funk Carioca, que tem incomodado uns e outros, e que também passa longe de estabelecer práticas harmônicas, convenhamos que é um repertório constituído com intuito de divertir, fazer dançar.

Que cada prática musical contemple sua função! E que saibamos o que ouvir a cada momento! A falta de harmonia que se nota na realidade é falta de compreensão da função que a música possui em cada situação cotidiana.

Estamos falando de gosto? Se estamos esse papo todo de nada serviu.

Gostou do artigo?

Compartilhe!

#VemProSouzaLima