Falta estudar ética na música?

Falta estudar ética na música?

Falta estudar ética na música?

Sim, e muito. São constantes os relatos de abuso e assédio que recebo de ex-alunos que fizeram comigo sua preparação para vestibular de música, curso que realizo todos os anos desde 2004. E as reclamações sobre seus professores na graduação são tristes e agoniantes.

Na pós-graduação então, em Educação Musical com ênfase em desenvolvimento metodológico, que coordeno, recebo ainda mais histórias de quem já passou por assédio moral, abuso de autoridade, e até assédio sexual. E saem dessa sem denunciar.

Infelizmente quem chega a pós já passou por essa humilhação e sobreviveu em busca de seu sonho, o negócio é que a grande maioria abandona seus estudos na graduação e enxerga em si mesmo o problema.

Uma professora que comenta com sua aluna que ela é péssima em sua visão, faz isso de desaforo, ou para fugir do julgamento pela sua incapacidade de orientá-la?

A ética na música está tanto para os alunos quanto para os colegas de profissão, embora se perceba a falta dela muito mais em educadores de ocasião, ou melhor falsos educadores.

Infelizmente voto veementemente para que haja a disciplina ÉTICA no ensino regular, que reflita sobre cidadania e humanidade -, para quem sabe desenvolvamos uma geração mais respeitosa e empática, que cumpra suas posições sem promover descaso e humilhação para com os outros. E ainda mais para os que se formam em universidades do exterior e chegam com pompa considerando os preceitos morais de outro país o mesmo de que o nosso.

Eu sobrevivi a esses casos, e mesmo conservando a dor até os dias de hoje, me recuso a vingar-me sobre a propensão de me igualar a essa gente. Mas cobrar para que o abusador ou assediador não faça mais é a mínima contribuição de quem sobreviveu e se fortaleceu. Eu deveria ter denunciado, e a falta de denúncia permitiu que esses profissionais assediadores estejam ilesos praticando os mesmos atos nos dias de hoje.

Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor”. Talvez a citação mais famosa de Paulo Freire se refira a um ciclo contínuo de abusos, já que mais do que formar músicos formamos pessoas, e que tipo de pessoas essas violências estão formando?