É exclusividade do funk a perseguição musical?

É exclusividade do funk a perseguição musical?

É exclusividade do funk a perseguição musical?

Obviamente não.

O Brasil é um país que maltrata seus criadores de diferentes maneiras. E é o que frustra inclusive esses moralistas baratos que hoje tentam colocar o funk como vilão, mas que em sua linhagem de outros tempos apontaram o dedo para o samba e até o choro.

Deve doer nessa elite banal ver alguém excluído da sociedade, com dificuldades sociais, com estado negando as obrigações constitucionais, criando algo que se torna sucesso.

Como um negro, de periferia, que teve amigos e familiares assassinados na mão do estado a mando de “pessoas de bem” – essa elite tosca, pode criar uma música? Essa elite pensa que tirou tudo de um povo marginalizado. E o povo responde.

E trouxe o RAP, trouxe o funk, trouxe o samba, trouxe o choro. Ou você acha que quem fez essa música estava nos salões e teatros arquitetados da elite brasileira?

Mas veja que elite e indústria correm atrás dos seus ídolos pasteurizados. O RAP chegou em 1980 depois chegou Gabriel O Pensador, processado em máquinas da indústria. O funk chegou e depois a indústria plantou o pé de Anitta. Só reparar.

A elite pira ao olhar para trás, o Rio de Janeiro capital que perseguiram sambistas e chorões, tornando crime portar um pandeiro, e ver o samba e o choro se estruturando como patrimônio nacional.

E sem falar da indústria fonográfica que é dominadora, e não entende quando algo surge nas suas barbas. Indústria essa, é verdade, que surgiu como refletora – gravava o que as ruas cantavam e o que chamamos de Teatro Revista, paródias semanais. E foi assim com o samba, depois com o baião, com a música caipira.

Refletindo nichos de mercado, a indústria foi se ocupando. Daí um ou outro artista quis se estabelecer e foi ouvido em suas ideias, que é o caso da bossa-nova. Vieram os Festivais na década de 1960, e que buscavam entender o que estava sendo produzido no Brasil, e a indústria refletiu.

Mas daí no fim dos anos 1970 a indústria fonográfica decidiu mandar, rotular coisas que já existiam com novos termos, e empurrar ouvido a dentro do público. Foi assim com o pagode que nada mais era o samba com um novo rótulo, com a música sertaneja, o mesmo.

Claro que essa música depois da interferência da indústria passa a virar outra coisa, cria-se uma ruptura. E dessa ruptura um leigo que não conhece a raiz e toma como referência o novo produto que tinha uma base desconhecida transita para outro caminho. É isso. E faz parte da minha tese de doutorado.

A indústria e a elite piram, mesmo tirando tudo do povo, o povo está vivo e produzindo. E a elite está ali reclamando participação ou vocação para algo supostamente melhor, que não passa de lixo.

A bossa-nova nunca foi popular no Brasil, embora tenha contribuído muito com a geração que foi popular, o que chamamos de MPB. E só.

#VemProSouzaLima