10 dez Dez arranjadores brasileiros fundamentais
O arranjador era um compositor erudito que desde o período barroco adaptava temas para novas instrumentações complementando e propondo suas características sobre obras alheias. De uma adaptação à uma fantasia sobre determinado tema ou autor, a carreira se consolidou como prática dos músicos já no século XX.
Hoje o arranjador pode ser um especialista. Um músico que se dedica exclusivamente ao arranjo.
Consolidação
A consolidação do arranjador foi impulsionado pelo advento e desenvolvimento do mercado fonográfico em nível internacional – remontando a um novo fazer musical do século XX. Habitualmente o arranjador – um músico que possui profundidade nos coeficientes da música escrita dedicava-se a adaptar repertório da música popular, ou assegurar o melhor uso da matéria prima do processo de gravação – atuando como diretor musical.
A partir da década de 1920 a figura do arranjador adquire representatividade no Brasil atuando com a produção fonográfica, a seguir o arranjador assume postos da rádio e televisão. Nos primeiros encartes, dos lps da década de 1950, já é possível perceber a figura do arranjador.
E desde então surgiram músicos que se especializaram para a atividade do arranjo. Há universidades e conservatórios, em terceiro grau e em nível médio – através de cursos técnicos que desenvolvem em seus programas o arranjo.
Pode-se dizer que dez arranjadores determinaram os rumos da música brasileira.
A música brasileira construiu estigmas e formas que mesclam a erudição e a instintividade. Grandes instrumentistas brasileiros dedicaram-se a arte de criar arranjos entretanto grandes arranjadores brasileiros são compositores expressivos de música erudita.
Grandes nomes da música brasileira contribuíram como arranjadores, uns se destacaram em uma nova área, outros tornaram-se especialistas na carreira do arranjador.
Surpreenda-se com alguns músicos propostos nessa publicação. E que possuem tanto destaque em outras áreas de atuação, que passaram batidas as atividades de arranjo. E se exerceram essa função anonimamente assim permanecem, até que em uma breve leitura um interessado pela música brasileira encontra em um encarte de um famoso álbum, se surpreende.
Como o saxofonista J.T. Meirelles, importante músico do jazz, que atuou como arranjador aos 23 anos, do álbum “Samba Esquema Novo”, de Jorge Ben, fundamental para a música brasileira. E veja bem, esse músico não está em nossa lista, e sequer se consolidou como arranjador de fato.
Vamos lá para uma lista de apenas dez arranjadores, ciente da injustiça com algumas figuras importantes…
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Pixinguinha (1897 – 1963)
Pixinguinha iniciou suas atividades no mercado fonográfico brasileiro como instrumentista, a seguir, no entanto, consolidou-se como o principal arranjador da música brasileira até meados da década de 1940. E apenas em um terceiro momento estabeleceu-se como compositor e artista do mercado fonográfico.
O clichê harmônico brasileiro, com o movimento de quinta justa, para quinta aumentada, para sexta maior, regressando a quinta aumentada, remete a um arranjo de Pixinguinha – segundo o livro que transcreveu e publicou sua contribuição.
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Severino Araújo (1917 – 2012)
Excelente instrumentista, arranjador, compositor, líder da primeira big-band brasileira reconhecida no mercado fonográfico “Orquestra Tabajara”, que a partir de Severino Araújo procurou o repertório brasileiro, e a linguagem das bandas de coreto, ou marciais – com destaque para a banda do Corpo de Bombeiros, que é parte fundamental das primeiras gravações brasileiras.
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Radamés Gnatalli (1906 – 1988)
Compositor de música erudita de destaque no Brasil possui em sua obra peças para instrumento solo, pequenos e médios agrupamentos e orquestra. Na música popular destacou-se como arranjador reinventando com seu grupo o choro, em dois álbuns realmente transformadores.
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Lindolpho Gaia (1921 – 1987)
Destacado arranjador brasileiro foi responsável por arranjos determinantes da música brasileira, entre a década de 1940 e 1970. Entre os quais, os primeiros álbuns de Chico Buarque de Hollanda.
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Tom Jobim (1927 – 1994)
Poucos sabem que a primeira atividade que Antônio Carlos Jobim dedicou-se no Brasil foi a de arranjador. É dele o arranjo fundamental da música brasileira reinventando o fonograma brasileiro na canção “Chega de Saudade” – que também é de sua autoria.
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Rogério Duprat (1932 – 2006)
Compositor de música erudita dedicou-se continuamente a atividade de arranjador, sendo um marco na música brasileira, com o arranjo do disco Tropicália, e quase a totalidade do disco Construção de Chico Buarque. Um afronte minimalista, concretista, atingiu a canção do Brasil através das contribuições de Duprat.
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José Briamonte (1931)
Fundamental arranjador brasileiro da era dos festivais. Assinou arranjos iniciais dos principais artistas brasileiros nascidos na década de 1940 e que despontaram nesses eventos marcantes das décadas de 1960 e 1970 no Brasil. Atuando para a rádio, televisão e para o mercado fonográfico.
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César Camargo Mariano (1943)
Responsável pela criação e concepção do disco antológico “Tom e Elis”, é um músico instrumentista destacado, fundamental para a compreensão da modernização do piano, e do arranjo brasileiro.
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Rildo Hora (1939)
Muitos o conhecem pela atuação com os sambistas da década de 1980, mas Rildo Hora obteve primeiro destaque como instrumentista, vertendo ao arranjo a seguir, e como arranjador de destaque já nos primeiros álbuns de João Bosco. Está aqui pela enorme contribuição com o arranjo brasileiro, pela obra extensa produzida.
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Cyro Pereira (1929 – 2011)
Impossível não citar Cyro Pereira, educador, compositor erudito, e dos grandes arranjadores brasileiros de todos os tempos. Tendo se dedicado amplamente aos arranjos destinados a orquestra em detrimento ao mercado fonográfico.
Deixar de fora Léo Perachi e Liryo Panicali de fato contradiz a grandeza desses arranjadores, foi difícil. Mas foi preciso selecionar dez para a ideia central dessa série de orientar futuros arranjadores e produtores.
E se alguns nomes saltam por questões estéticas, técnicas, e contribuição aos músicos e a música brasileira, essas foram as minhas escolhas, por perspectiva, pela importância de certos trabalhos cada qual em um período da história de nossa música fonográfica.
Na década de 1980 deixei de fora o incrível Cristóvão Bastos, de álbuns maravilhosos produzidos. E a seguir Luiz Cláudio Ramos que tem realizado um trabalho muito diferenciado nos recentes discos de Chico Buarque.
No tempo mais recente deixei de fora o mestre Proveta – da banda Mantiqueira e de tantos outros trabalhos.
Doeu deixar de fora Anacleto de Medeiros, do princípio do mercado fonográfico – excelente instrumentista, líder, maestro da banda, e possível arranjador – embora para mim soe mais como compositor. Também deixei de fora Ary Barroso, provavelmente o primeiro produtor musical brasileiro de fato.
E aí? Quem falta para você?
#VemProSouzaLima
São cursos livres, técnico em composição e arranjo, técnico em produção e até na faculdade, para se formar em arranjo.
Estou escrevendo um livro sobre o tema.
E esse artigo é um dos mais lidos no quesito orientação de escuta e conhecimento histórico brasileiro. Compartilhe.