A música não é uma profissão digna?

A música não é uma profissão digna?

A música não é uma profissão digna?

Parece uma pergunta? Bom, intitulei como pergunta, embora um usuário anônimo parece ter trazido como afirmação. Espero que só tenha esquecido da interrogação! Ato falho. Já adianto que na minha visão a música é uma das profissões mais dignas da humanidade!

Ao longo dos anos de existência do BLOG Souza Lima, em mais de uma centena de oportunidades, incluindo entrevistas e outros textos, falamos sobre o que é ser músico.

Trata-se de uma carreira envolta em preconceitos sim, não há como negar.

Mas o que é dignidade nos dias de hoje? Para esse povo de bem!

Se é uma qualidade do que é grande, do que confere nobreza, valor, honra ou autoridade, sim, música deveria ser aos olhos de todos uma profissão digna. Embora somente um músico sabe o tempo que despendeu para dominar um instrumento, seja qual for. E o amigo que o vê tocando em um bar ou festa, encontra ali o músico em um momento que lhe parece de diversão, mas não é. Claro que parecer não é ser. Nem ser é parecer. Para aqueles músicos que se dedicam ao entretenimento de festas e bares trata-se de um trabalho.

Eu vivi remunerado por trabalhos nos bares de São Paulo por cerca de quatro anos.

Voltava de madrugada cansado após esperar o metrô para economizar no Táxi. Nos dias seguintes tinha faculdade e lá estava eu sem nenhum atraso. Chegava na noite de sexta para sábado, também tocava, era dia de jornada dupla – das 19:00 às 22:00 e das 23:00 às 3:00. Os dedos ficavam moídos, em um dia de frio, guitarra e cordas velhas, até chegou a sangrar.

Bom, no sábado eu me dava o direito de dormir até meio dia ou uma hora.

Meu colega que dividia casa comigo, não era músico, e já me acordava com um “Bom dia Vagabundo”! Aí está a visão de quem te vê indigno. “Você dormiu até 13h?” Esse tipo de comentário durou mais de um ano! Sempre suportei pacientemente.

Veja só!

Nesses meses juntei dinheiro para comprar um carro. Esse mesmo colega sugeriu dividirmos a compra, eu dava a entrada e ele financiava o restante em parcelas. Perfeito, aceitei porque usaríamos o carro em horários diferentes. Eu normalmente na madrugada depois de tocar, e ele no dia a dia onde eu usava mais o transporte público.

Um dia nesses sábados, eu tinha tocado, e os pais do colega estavam visitando nossa casa. E a mãe sem saber que eu já estava acordado, brigando com o coleguinha, disse que eu era vagabundo por andar pela madrugada, por ser músico, por com certeza beber, porque quem acordaria tão tarde (depois de tocar em dois turnos, ter dado aula a tarde, e ter ido para a faculdade de manhã)?

Na visão da nobre senhora eu era indigno.

Trato desfeito. Eu acabei comprando meu carro sozinho. Um modelo simples. Nem grana para parar em um estacionamento eu tinha. Meu carro ficava na frente de casa. O colega seu pai emprestou dinheiro para dar metade do carro, e ele comprou o carro da tia dele. Um modelo melhor, ar-condicionado, direção hidráulica. Sempre que podia tripudiava com meu carro.

Eu segui minha vida, como sempre, e todo dia focado.

Meses depois deixamos de morar juntos. Soube por aí que o colega já havia dado perda total em um carro, sozinho, embriagado, batendo em uma guia de madrugada.

Provavelmente nunca fui, e nunca serei digno para esse tipo de pessoa. O preconceito, que se tem com a carreira de músico, é notório. O que fiz? Mantive o foco. Esse tipo de opinião realmente importa?

Quem é essa pessoa que está a sua volta que entende da carreira de músico? E ainda mais, quem desses pode afirmar que não é digna?

Entenda que a pessoa que considera que ser músico não é digno não quer seu bem. E se você queria ser músico e concorda com isso ou motivou essa afirmação, é você que não merece ser músico. Siga em frente! E passe bem!

Sucesso com sua carreira!

 

#VemProSouzaLima