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Quero Ser Músico Entrevista: Tiago “Big” Rabello

Quero Ser Músico Entrevista: Tiago “Big” Rabello

A oportunidade fundamental está no dia a dia, na audição, do ouvir, refletir. Aprender a aprender faz parte do que eu, João Marcondes, procuro como educador.

Somos autodidatas em muitos momentos, ou se não somos, podemos ser o mecanismo do nosso aprendizado. A série Quero ser músico Entrevista um dos bateristas mais atuantes da cena da música brasileira Tiago “Big” Rabello. Um músico expressivo que tem estabelecido uma brilhante carreira. E percorreu em sua consolidação um caminho próprio. E que serve como exemplo para os cuidados que devemos ter no aprendizado. Vamos lá!

ENTREVISTA

Nome: ​Thiago Rabello​

Cidade Natal:​ São Paulo​

Ano de Nascimento:​ 1981​

Instrumento:​ Bateria​

Formação Acadêmica: ​Nenhuma​

Formação Livre:​ autodidata​

 

1) Em que ano iniciou sua atuação como músico profissional?

​1997​

2) Quais áreas atua diretamente como músico profissional?

​Gravação e shows (instrumentista), produção (produtor e arranjador), e mixagem​ (engenheiro de som, também gravando).

3) Levando-se em conta a dinâmica de sua atuação como instrumentista, ao lado de ícones como César Camargo Mariano e Romero Lubambo e nomes recentes da música fonográfica, como Jorge e Mateus e Marília Mendonça, como é atuar em gêneros e estilos tão contrastantes da música brasileira? 

​Encaro todos os tipos de música como iguais, sem preconceitos.

Acredito que temos ​que achar a nossa função dentro de cada estilo. Tem situações em que eu me envolvo com o projeto desde o início, participo dos ensaios e de arranjos coletivos, etc. Outras vezes, eu sou chamado somente para reproduzir uma ideia do produtor, que já idealizou todo um conceito na pré-produção. E existem projetos que eu posso tocar de um jeito mais artístico, colocar minhas ideias.

Ao contrário do que poderia parecer óbvio, os projetos que dão espaço para criação nem sempre são aqueles ligados ao jazz e à música instrumental, e os projetos com pré-produção bem determinada também não são obrigatoriamente os do pop. Isso depende muito do produtor e do artista, mas o principal é encarar o trabalho com seriedade e respeito, sempre.

4) Quais práticas o músico instrumentista necessita para atingir versatilidade? 

​Antes de tocar, tem que aprender a ouvir os outros instrumentos que não sejam o seu, para criar linguagens em cima do que se ouve. No meu ponto de vista, somente assim você pode ficar desprendido de qualquer estilo, e a versatilidade começa a surgir. Por último, você cria sua própria assinatura dentro de todos os estilos.

5) Qual espaço para contribuição do instrumentista em uma música com viés comercial? 

​Você sempre acaba achando um espaço dentro da música comercial, pois apesar de parecer fácil gravar e tocar esse tipo de música, às vezes é muito mais difícil do que tocar uma coisa solta. Porque você tem que seguir regras, ter uma boa leitura de partitura, um bom entendimento da música que se está tocando, um bom som do instrumento, não atrapalhar a melodia principal e, mais do que tudo tocar no tempo com click (metrônomo).

6) Como é dirigir seu estúdio, captar seu próprio som em diferentes fonogramas? 

É​ uma alegria imensa ter estúdio há mais de 15 anos, e foi uma jornada longa até conseguir entender o que cada estilo precisa.

Eu uso diversos kits e microfonações bastante diferentes para cada projeto.​​​ Acabo dependendo muito do que a música tem a oferecer. Tento decifrar o melhor setup e microfonação. Algumas vezes é super rápido, em outras eu perco até um dia inteiro para chegar no som que a música pede. ​​

7) No processo de produção, na sua opinião, quanto um músico instrumentista precisa se envolver nos conhecimentos da engenharia de som para atingir resultado satisfatório em suas gravações? Essa questão motivou a se especializar nos processos de gravação?

​A primeira coisa é saber afinar o instrumento.

Não importa se ele custa mil ou cem mil, mas tem que estar em ordem. A segunda coisa é você saber se mixar​ entre as peças da bateria. Quer dizer, tocar da maneira mais equilibrada possível para você mandar um som “pronto“. Isso é o principal para começar, em minha opinião.

O próximo passo é conhecer os microfones, prés, compressores, equalizadores, etc. Eu acho muito importante o instrumentista de hoje se gravar o máximo que ele puder e saber pelo menos o básico sobre gravação e mixagem. Mas não antes de dominar os timbres do seu instrumento, pois os melhores microfones e prés não fazem milagre se você mandar um som desequilibrado.

Isso sem contar a sala na qual você vai gravar, que é outra ferramenta muito importante de todo esse processo.

8) Como é a atuação de seu estúdio? Concentra-se aos projetos que dirige e atua como instrumentista? Ou também atende a outros músicos?  

​O meu estúdio é um espaço de se fazer música. Seja como músico, produtor, engenheiro de mixagem ou simplesmente como dono do estúdio​. Recebo gente do Brasil e do mundo inteiro, fazendo suas próprias produções e apenas utilizando a sala, ou me contratando para algum dos meus serviços.

9) Como avalia a formação universitária oferecida aos estudantes no Brasil ao que se refere a preparação para o mercado de trabalho do músico profissional?

​Creio que a maioria das universidades prepara os alunos para o mercado de jazz e música brasileira, principalmente instrumental. O resultado disso é que temos muitos músicos bons para o pequeno espaço da música instrumental​, e falta de conhecimento, experiência e versatilidade para se aventurar nas gravações e shows de todos os outros tipos de música que acontecem e têm muito espaço no Brasil. Acho muito bacana a iniciativa de vocês, de querer mostrar outros caminhos possíveis para o estudante seguir sua carreira sem preconceitos.

Obrigado! 

10) O que sugere para a formação do baterista na consolidação de sua carreira?

​Estudar muito, mas ouvir muito também. E nunca deixar de tocar aquilo que te move, por mais que esteja trabalhando com outras coisas.​

 

Caríssimo Thiago “Big” Rabello , agradeço a entrevista. A contribuição com uma nova geração de músicos profissionais, melhor formada, mais informada, é um legado que com certeza teremos em comum.

Grande abraço

João Marcondes.

Entrevista realizada por e-mail, no dia 16 de julho de 2018. Esse artigo e entrevista foi revisado em 01 de junho de 2022.

#VemProSouzaLima