25 mar Qual é a matriz do funk carioca?
Qual é a matriz do funk carioca?
Vamos lá! Essa semana praticamente eu só falei de funk carioca aqui em nosso blog. Peço desculpas de alguma maneira, mas creio que seja relevante tratar hoje da matriz do funk carioca.
E começo contando uma história importante: em 2014 discuti por longas horas com um exímio instrumentista brasileiro sobre a importância do funk carioca. Segundo ele: funk não é cultura.
Blábláblá
Primeiro a irracionalidade de entender que o outro é aculturado já vale para descartar uma argumentação por que logicamente o argumentador entende que a sua cultura seja melhor.
Não existe cultura melhor. Não existe cultura mais rica. Isso é banalidade. O mais simples ser-humano tem algo a ensinar. O mais simples organismo biológico tem algo a ensinar.
Falei aqui em outro artigo que um produtor era como um passarinho, foi uma associação para um animal incrível que ao mesmo tempo em que se alimenta, descarta. Um sistema digestivo rápido. E a intenção era apontar que o cidadão não pensa, e deveria.
Ambos, o produtor e o exímio instrumentista, entendem que o funk é menor do que o trabalho que ambos realizam, o que é patético.
A matriz cultural do funk o instrumentista sabia. Na visão dele é apenas o maculelê. Um maculelê eletrificado como música eletrônica a brasileira. Na minha visão a influência do maculelê é rítmica, uma célula que se percebe imediatamente, como um padrão, um ostinato convencionado.
No entanto, é perceptível que essa célula se encontra também no jongo da serrinha. Assim, particularmente entendo que o funk possui duas matrizes culturais, o maculele influindo diretamente no ritmo, o jongo para dança – muitos dos movimentos originais do funk carioca remontam a movimentos dessa segunda manifestação cultural.
O músico instrumentista pensa como Mário de Andrade: matrizes são matrizes, bom é o resultado que se faz somando harmonias, melodias, variações rítmicas e de andamento, instrumentação.
O instrumentista acha que está fazendo algo vivo no antropofagismo de Oswald ou no Ensaio da Música Brasileira, de Mário de Andrade. Vivo Mário de Andrade gargalharia dele.
O instrumentista entende que faz música brasileira artística repetindo padrões europeus. Uma bobagem sem precedentes. Ainda mais quando o faz diminuindo algo que brotou do chão.
Ele que teve privilégios ao poder estudar seu piano desde criança não engole que uma pessoa banida da sociedade de diferentes maneiras tenha a mesma profissão, e mais êxito que o próprio. A dor da inveja.
E o produtor, este sim ainda mais cego, não sabe nem uma coisa e nem outra. Uma legítima piada criada pela indústria fonográfica.
Prefiro funk carioca do que o que esses dois aí fazem. Disparadamente a resultante e a matriz do funk carioca.