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Funk Carioca não é música?

Funk Carioca não é música?

Funk Carioca não é música?

Cansei de entrar em portais de internet onde youtubers fanatizados afirmar que funk carioca não é música. Feio ouvir ou ler isso, porque o funk é uma cultura popular muito importante, que surgiu e se consolidou totalmente alheia a indústria fonográfica, e que é composto pelo ritmo do maculelê e movimentos da dança do jongo.

Infelizmente na internet muitos desses youtubers que adquiriram alguma notoriedade com um grupo de seguidores tratam sua opinião como informação séria.

É preciso diferenciar o que é a opinião de uma pessoa que aprecia outras manifestações musicais, do que é uma informação baseada em alguma das áreas que observa os fenômenos culturais – sociologia, antropologia e até a musicologia.

O Funk Carioca é uma manifestação totalmente brasileira, que nada tem a ver com certa música norte-americana, provinda dos anos 1980. Esse gênero musical brasileiro, por ter rítmica própria, instrumentação própria, coeficiente sociológico próprios, é uma espécie de música eletrônica brasileira.

Amigos, convenhamos ninguém nunca esperou qualidade poética na música eletrônica, ou grandes harmonias, timbres, ou melodias desenvolvidas. A música eletrônica, não aquela de Stockhausen, mas a música eletrônica pop é feita para dançar.

E uma música feita para dançar não permite muitas intervenções em suas camadas de percepção, típicas da homofonia, e muito menos ainda pede uma primeira camada de protagonismo muito desenvolvido.

Não dá para esperar que água tenho o paladar de um vinho, de uma cachaça ou de um whisky, e esperar isso é de uma ignorância tremenda.

A música cumpre uma função, é fato. E a função do funk carioca está para a dança, retratando ou não o que a juventude que a produz vivencia.

A frustração ou o discurso do apelo a sexualidade é baboseira. A sexualidade está presente na composição popular brasileira de todas as maneiras desde o princípio do mercado fonográfico – lembrando que minha dissertação de mestrado estuda essa indústria justamente.

Que tal pensar em Garota de Ipanema? Uma composição clássica da música brasileira, aceita por essa elite enxaqueca cultural. Lançada em 1962, a composição fala de uma garota que naquele tempo tinha 16 para 17 anos, com letra composta por um tiozão.

Esse tiozão se chama Vinícius de Moraes, de 49 anos. Isso me parece crime!

E se fosse sua filha adolescente desejada por um cinquentão?

Então, né? Se o funk tem apelo a sexualidade perante uma régua, que possamos medir tudo a partir da mesma régua.

O Funk tem como característica a rítmica, e isso basta, por tratar-se de algo muitíssimo rítmico e realmente dançante, na minha visão muito melhor que aquele pulso constante desembestado em frequência grave que a música eletrônica internacional propõe.

E só! Que venham as pedras!

O Cristo Redentor de braços abertos pode avaliar tudo melhor do que nós mortais? Talvez sim. Mas equidade é um bom princípio.

E até mesmo o samba foi perseguido pelas elites brasileiras em seu tempo!

PS: Não use esse argumento sem citar a fonte, esse ponto de vista está publicado em um livro!

#VemProSouzaLima