12 out O que falar da trilha sonora de UP – Altas Aventuras?
Pouquíssimas são as trilhas que representam tão fielmente um filme, uma peça, um balé, ou um enredo publicitário quanto a primazia encontrada em UP.
Àquele pequeno grupeto, ostinato, ideia que automaticamente remete a determinada imagem, e que define uma marca ou um filme, é o que ocorre ao primeiro ouvinte na audição de “Up”. Uma obra que fez-se assim, pura, concisa, e precisa.
O tema de “UP” começa por um pequeno grupo em tonalidade maior, em métrica ternária, uma pequena valsa. Destes temas que massageiam o inconsciente coletivo, que estão ali, são inéditas e originais, mas compõe uma série de outros enredos melódicos que já nos habituamos. Uma ideia que introduz sem parecer tão nova. Ou que inova sem parecer residual.
Michael Giacchino, um norte-americano, é o responsável pela criação dessa fantástica obra musical. Como se não bastasse “UP”, Giacchino também compôs para outra recente animação, que já é certamente um clássico, mais uma obra PIXAR: Ratatouille.
O que enriquece o inspirado tema de Giacchino é a instrumentação, que visita cada seção da orquestra, cada timbre definido pela organologia, sem dar importância demasiada aos grandes desenvolvimentos beethoovianos, mantendo-se fiel ao tema principal.
O tema aparece introduzido por um agrupamento de sopros com trompete com surdina. As cordas em crescendo, e das cordas brotar um violino que assume o protagonismo. Um trombone com surdina, talvez? Piano e com vibrafone. Para um sutil ralentando – quando se prolonga a sensação da pulsação progressivamente.
Tema em pulsação alongada ao piano. Flauta em contraponto, e cordas em pizzicato.
Trompete novamente em surdina. Cordas novamente, e brotando um violoncelo em região aguda complementando com um clarinete uma conexão dessas que move um novo timbre, uma mistura incrível.
O tema discorre em apenas duas partes mas que se comunicam continuamente, trata-se de uma forma binária. Ingressando, regressando. Com bordaduras. E melodias em contracanto.
No filme há espaço livre ao reconhecimento de um violão para reapresentar o tema, o que é raro, poucas trilhas sonoras usufruem desse instrumento tão conhecido por nós brasileiros.
Um paradigma que reforça a preocupação de atingir o inconsciente coletivo, e em conjunto da expressividade que o violão propicia de maneira internacional. Quem não reconhece o som de um violão?
Como não se apaixonar por essa obra de arte?
A obra é prova fundamental de que é possível fazer arte em todos os patamares do entretenimento.
E que até discutir arte e entretenimento parece algo interessante, para quem pouco se arrisca em unir o que se espera em ambos. Podemos andar todos juntos, como Giacchino demonstra.
Eu como escritor de diversas obras literárias para o público infantil, também metodologias de ensino, me sinto feliz de observar características as vistas gerais consideradas tão contrastantes em obra tão significativa como produto do entretenimento.
Como escritor sigo diariamente esse desafio ao trabalhar questões pertinentes do mundo moderno, e depois sonorizar como um trilheiro em obras fonográficas que são da minha principal área de atuação: a composição musical.
Incentive uma criança a ler, essa ação muda vidas.
Proponha o estudo da música, de maneira menos visível é verdade, ainda mais a curto prazo, mas outra ação que muda a percepção de mundo que temos. A música faz parte de tudo.
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Um dia me perguntaram o motivo de escrever tanto para crianças. Minha resposta foi certeira: é mais fácil mudar o futuro cativando uma criança do que cultivar em adultos tão pouco zelosos com o que vivem hoje.
Ler ou tocar um instrumento? Não, lendo e tocando um instrumento. Leitura ouvindo ouvir música, lendo e ouvindo histórias musicadas.
Quem estará no futuro que lembre dessa dedicação.