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O que é música folclórica?

O que é música folclórica?

A música folclórica é uma ponta de um triângulo musical composto pela música popular e a música erudita.

À primeira vista a publicação do que é folclore consolida o eixo final do fazer musical brasileiro para as definições que permeiam nosso blog nesse eixo de três formas de se fazer música.

E talvez o nome ideal para essa manifestação seja MÚSICA TRADICIONAL.

Já adianto que a música tradicional retrata um eixo da oralidade, um contraponto a música escrita e da música popular fonográfica. Justamente por trafegar de maneira oral, ensinada de pai para filho, entre amigos, familiares.

A música popular usufrui do mercado fonográfico. A música erudita da partitura.

Folclore é a música que independe de meios escritos ou fonográficos para propagar-se, mover-se – nos basta uma lembrança para cantar, ensinar ou brincar.

Assim a música tradicional é um conjunto de melodias, ritmos, cantingas, tradições, vestimentas, danças que formam o saber cultural do povo!

E mesmo que uma lembrança indireta? Sim, o folclore está presente no inconsciente coletivo. Nas cantigas de roda, de ninar, e muito mais!

Não nos recordamos quem nos ensinou do balão que caia, muito menos da história da Terezinha de Jesus, apenas sabemos. Cantamos. E se aprendemos mesmo que pareça incrível já ensinamos. Passo da oralidade.

Antes de mais nada o folclore parece inerente ao ser humano.

Mário de Andrade chama em seu livro Ensaio sobre a Música Brasileira, o folclore de música popular. Vale lembrar que o termo popular acaba assumido pela indústria fonográfica, e Andrade está nesse tempo se referindo música popular como sinônimo de folclore. Retomaremos esse ponto mais a frente.

O folclore está na canção de ninar, nas brincadeiras de roda, nas ações, trocadilhos, e trava-línguas, brincadeiras de mãos, brinquedos. Receitas. Lendas.

Não lemos em pauta todo o repertório da música folclórica, e mesmo que leiamos, não está ali seu significado. Também não extraímos de um livro a receita de um doce, alguém nos ensinou, e lembramos até certo ponto, dali em diante adaptamos.

O folclore é tradição que se move no inconsciente coletivo. E a ele, isso basta.

Desse inconsciente pleno, da tradição surgem variações. Quem nunca se deparou com uma cantiga folclórica cantada por um conhecido de uma maneira diferente? Tanto em aspecto melódico, quanto em texto. Ou que esperou um sabor e se deparou com outro em um prato tradicional?

Folclore aos olhos de um leigo pode até parecer algo envelhecido.

Ledo engano.

O Folclore é algo transformador por se adaptar, por se reinventar, por coexistir, e mesmo que pareça definhar constantemente se renova. É uma raiz arrancada, que brota, sem ser semeada. E quando voltamos o olhar, floresceu, e se propagou novamente.

Lembre-se que até em uma festinha de aniversário o folclore está, ou alguém nos ensinou em pauta a cantiga dos “Parabéns”? Então, com essa música, que parece adaptada a humanidade, e que possui autor, comemoramos cada festa. É uma apropriação do folclore. Que se esquece seus autores.

Há temas populares, com autores, que com tempo parecem folclore, há folclore que dialoga com populares, eruditos que refazem o folclore. E tudo mais! Mas absolutamente convergindo em arte.

Há um inconsciente coletivo internacional. Um nacional. E em um país continental como o Brasil, há um inconsciente regional também. Contrastes do folclore, folk, do povo.

O nacionalismo, como manifestação da música escrita, justamente olhou para o que empiricamente concebeu o folclore. Desde o final do século XIX em países como a Rússia, até meados do século XX.

No Brasil, o modernismo em seus alicerces ideológicos como no livro “Ensaio sobre a Música Brasileira” de Mário de Andrade, ou o Manifesto Antropofagista, de Oswald de Andrade,  miraram a música de aspecto folclórico para que culminasse justamente em uma música brasileira plena, calcada nas vanguardas da música escrita convergindo e transformando a música da nação brasileira – folclore.

Evidentemente quando se procura apropriar-se da música do povo, seja por meio fonográfico, seja por meio escrito, o folclore agradece. Mas reage, conter o folclore é como tentar segurar o ar entre os dedos. Impossível. O folclore é algo completamente independente.

É algo que identifica, que permeia, semeia, e por si, prossegue.

É o que se deve obedecer como comunicação irrestrita.

Cante aos seus filhos, aos seus educandos, para suas crianças. Traga os valores da cultura popular, reinvente, brinque e deixe brincar. Esse processo contribuirá diretamente com a formação humana, e se for desejo da criança, contribuirá de forma determinante com a formação musical.

Quanto? Quanto puder. A cultura popular não pode ser reivindicada. A cultura popular não pode ser eliminada. E mesmo para essa geração digital, a brincadeira traz elementos cruciais sobre a existência, e que precisam e devem ser interpretadas como lógica da formação.

Até já!

Esse artigo foi publicado em outubro de 2018, e ampliado e revisado em 21 de maio de 2021.